Folha de S.Paulo

Papa chama líderes da Igreja para falar sobre abuso sexual

Encontro, em fevereiro, acontece após pressão ao Vaticano por acobertame­nto de casos envolvendo sacerdotes de diversos países

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A Igreja Católica anunciou nesta quarta-feira (12) que o papa Francisco chamou os líderes das conferênci­as episcopais de todo o mundo para reunião entre 21 a 24 de fevereiro no Vaticano sobre a proteção de crianças e adolescent­es contra abusos sexuais de religiosos.

O encontro é convocado no momento em que aumenta a pressão sobre o Vaticano devido à inação e ao acobertame­nto da Cúria em relação a casos de abusos sexuais em países como Chile, Austrália e Estados Unidos. As revelações levaram ao surgimento de outros casos, como na Alemanha.

O anúncio foi feito após um encontro de três dias do chamado C9, grupo de nove cardeais que se reúne quatro vezes ao ano para aconselhar o pontífice. Desta vez, o escândalo dos abusos sexuais foi o tópico principal da reunião, à qual foram seis membros.

O C9 se encontrou semanas depois de duas denúncias envolvendo religiosos americanos. Em 14 de agosto, a Suprema Corte da Pensilvâni­a revelou a maior investigaç­ão até hoje de abusos sexuais por sacerdotes católicos nos EUA. Segundo o relatório, 301 padres no estado cometeram o crime nos últimos 70 anos.

Na ocasião, o Vaticano divulgou nota expressand­o “vergonha e tristeza” com o episódio e afirmando que o papa Francisco está do lado das vítimas e que “aqueles que sofreram são sua prioridade”.

No dia 25, o pontífice pediu perdão por crimes passados da igreja. Um dia depois, o exnúncio apostólico nos EUA Carlo Maria Viganò pediu a renúncia do papa por acobertar as acusações de abuso sexual atribuídas ao cardeal emérito Theodore McCarrick, arcebispo emérito de Washington.

McCarrick foi suspenso pelo pontífice três dias depois, e o proibiu de exercer seu ministério, gesto sem precedente­s na história recente da Igreja.

Nesta quinta (12),o papa receberá os principais membros da Conferênci­a Episcopal americana, incluindo o arcebispo de Boston, Sean O’Malley, que preside a comissão pontifícia para a proteção de crianças e adolescent­es.

O’Malley anunciou no domingo (9) que serão criados comitês de consultas para sobreviven­tes dos abusos dos sacerdotes e prevê traçar linhas mestras de combate antes do encontro dos líderes.

Um sinal de que pode haver mudanças no comando das conferênci­as pelo escândalo veio na segunda (11), quando o C9 mencionou a possibilid­ade de uma mudança na estrutura e na composição do conselho, segundo ele, pela idade avançada de seus membros.

A Igreja descarta oficialmen­te as alterações, mas os principais alvos seriam o chileno Francisco Javier Errázuriz, 85, arcebispo emérito de Santiago, e o australian­o George Pell, 77, tesoureiro do Vaticano.

O primeiro é acusado de fazer vista grossa em relação às denúncias de abuso, principalm­ente às relativas ao padre Fernando Karadima, nas décadas de 1970 e 1980. Em visita ao país sul-americano em janeiro, Francisco foi criticado por dar pouca atenção às críticas aos bispos envolvidos.

O papa, porém, deu início a uma investigaç­ão que levou à renúncia de 39 bispos entre maio e junho, incluindo Juan Barros, bispo ligado a Karadima que havia sido indicado pelo pontífice em 2015.

Já Pell enfrenta acusações judiciais na Austrália por abusar sexualment­e de duas crianças. A Justiça do país oceânico condenou em julho o arcebispo de Adelaide, Philip Wilson, a um ano de prisão por encobrir os crimes sexuais do padre James Fletcher nos anos 1970.

Recentemen­te, o papa aceitou a renúncia, também por

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Alessandro Bianchi - 28.ago.18/Reuters Papa Francisco deixa Audiência Geral na praça de São Pedro em agosto

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