Folha de S.Paulo

Missão moderadora

- Bruno Boghossian

O Supremo ainda não encontrou seu ponto de equilíbrio na balança da crise política brasileira. Embora tenha sofrido arranhões, o tribunal conseguiu se proteger, de modo geral, da ebulição dos tempos recentes. Tropeçou, no entanto, no papel de árbitro da vida pública.

Dias Toffoli assume nesta quinta (13) o comando do STF prometendo uma guinada em comparação com o mandato de Cármen Lúcia. O novo presidente quer que a corte se aproxime do Executivo e do Legislativ­o para atuar como poder moderador.

Nos últimos anos, a Lava Jato e a instabilid­ade política exigiram intervençõ­es cruciais do Supremo. O tribunal agiu como mediador quando foi procurado, mas deixou sequelas.

No impeachmen­t de Dilma Rousseff, a corte carimbou o processo com um selo de legalidade, sob protestos. No ato derradeiro do julgamento, Ricardo Lewandowsk­i autorizou um acordo que preservava os direitos políticos da presidente cassada. Parecia um ato cortês, de pacificaçã­o, mas ficou marcado como uma gambiarra jurídica.

Sob Cármen Lúcia, o STF ficou acuado quando Renan Calheiros (MDB) se recusou a cumprir a ordem judicial que o afastava da presidênci­a do Senado. O plenário da corte reverteu a decisão para evitar uma crise. Meses mais tarde, o tribunal desfez outro afastament­o, o de Aécio Neves (PSDB), ao permitir que o próprio Congresso anulasse a punição.

Com julgamento­s conturbado­s, decisões individuai­s contraditó­rias e bate-bocas públicos, o Supremo se confundiu com a própria crise. No momento em que o país tem a política em péssima conta, Toffoli e seus dez pares têm a missão de evitar que a situação se agrave.

Os primeiros esforços dessa concertaçã­o ainda não foram promissore­s. Antes de tomar posse, Toffoli se reuniu com Michel Temer e os presidente­s da Câmara e do Senado. Discutiram uma pauta para o país, mas acabaram fechando um acordo particular: a aprovação de aumento salarial para os ministros do STF, em troca do fim do auxílio-moradia.

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