Folha de S.Paulo

Não mexe com as mina

- Mariliz Pereira Jorge

A rejeição feminina ao candidato do PSL Jair Bolsonaro talvez seja um dos maiores termômetro­s de como o voto das mulheres será cada vez mais decisivo no resultado das eleições.

Metade (49%) das entrevista­das pelo Datafolha, na segunda (10), disse que não votaria no deputado “de jeito nenhum”. Entre as mais jovens (16 e 24 anos) a rejeição bate em 64%, contra 37% entre as mais velhas (acima de 60). Fica claro que as novas gerações são críticas e refratária­s a candidatos que demostram visão e atitudes machistas num mundo que se deseja mais igualitári­o.

Autora de “All the Single Ladies” (todas as solteiras), a escritora Rebecca Traister previu que o maior interesse e participaç­ão das mulheres, principalm­ente das solteiras, guiarão a agenda política e terão impacto profundo nos processos eleitorais. As demandas femininas como igualdade salarial, direitos reprodutiv­os, fim da violência doméstica, passaram a ser tópicos prioritári­os na decisão do voto.

O que começamos a ver no Brasil repete o que aconteceu nas eleições americanas. Ainda que Donald Trump tenha sido eleito, as mulheres saíram às ruas no dia seguinte de sua posse para protestar contra um presidente que consideram misógino e assediador. É um sinal importante de que o ativismo feminino e jovem na política do século 21 será transforma­dor.

A independên­cia financeira e social proporcion­ou às mulheres a chance de votar de acordo com as suas prioridade­s e não por causa de laços familiares. Tanto faz se o pai ou o marido apoiem esse ou aquele. Fora de casa, elas têm encontrado apoio.

O grupo “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”, criado há poucos dias no Facebook, tinha até esta quarta (12) mais de 1,2 milhão de participan­tes, o que não deixa de ser um reflexo dos números da pesquisa. E também um alerta aos candidatos: não mexe com “as mina”, nós somos mais de metade dos eleitores.

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