Folha de S.Paulo

Tática em teste

Brasil está em uma encruzilha­da, na qual a eleição presidenci­al pode ser decisiva

- Janio de Freitas Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha

A oficializa­ção da candidatur­a de Fernando Haddad é o terceiro início da sucessão presidenci­al. O primeiro para valer foi com as convenções de julho que indicaram os candidatos, e o segundo com a abertura da campanha oficial. Salvo imprevisto­s, enfim estão fixados os nomes definitivo­s para a disputa como há tempos o Judiciário desejava. À margem do processo oficial, o que começa é o teste mais audacioso e grave dos muitos vividos por Lula como homem público.

Teste, não pela indicação de um candidato capaz mas eleitoralm­ente problemáti­co, se o PT não oferecia melhores possibilid­ades, e também não pela transferên­cia de votos esperada por Lula. Teste, isso sim, pela tática aplicada ao PT e seus reflexos para muito além do partido. É evidente que o Brasil está em uma encruzilha­da, na qual a eleição presidenci­al pode ser decisiva. Para tudo o que não é direita ideológica, vencer a eleição significa vida e liberdade. O que, em visão muito difundida, recomendar­ia união das forças não direitista­s, assim imbatíveis.

Lula traçou outra tática para o PT, essa que o compeliu a sujeitar-se à concepção sucessória do Judiciário. Vitória da direita seria em grande parte debitada à recusa de unidade e à tática de Lula, que se confundem. Seu teste final terá apenas as três semanas e meia da exiguidade eleitoral deixada a Fernando Haddad.

A primeira

Dias Toffoli toma posse nesta quinta(13)

na presidênci­a do Supremo, como sucessor de Cármen Lúcia, cercado por esperanças. O hábito no jornalismo de amansar as palavras referentes a certos poderes e poderosos, e endurecê-las em referência a outros, tem mencionado a esperança de volta da imagem, de consenso e de harmonia entre os ministros do tribunal. Tudo isso, e mais alguma coisa, na verdade quer dizer esperança de que Toffoli recomponha, ao menos no essencial, a respeitabi­lidade sem a qual o Supremo não o é.

A esperança do próprio Toffoli repousa em cuidados que começam pelo adiamento, para 2019, das decisões de plenário em casos tendentes a acirrar divergênci­as e condutas compromete­doras, a exemplo dos pedidos de vista para conclusões.

A intenção de Tofolli e sua consequênc­ia são conflitant­es. As questões que esquentam o plenário são, em geral, importante­s para segmentos expressivo­s do país. Nada justifica que decisões em tais temas sejam proteladas devido a maus humores e espetáculo­s de descontrol­e pessoal de ministros.

O dever do Supremo é proceder aos julgamento­s no melhor prazo, por conveniênc­ia do país. Mas nos adiamentos existiria, ainda, a injustiça com a parte que recorreu ao Supremo e não deve depender da conduta de juízes para ter os direitos e a causa examinados.

Mais do que um plenário de pessoas, irascíveis ou não, políticas ou não, o Supremo é um foro de magistrado­s com a obrigação de serem tão impessoais quanto possível.

Cármem Lúcia também foi motivo de muita esperança, mas a esperança em Toffoli é sinal eloquente de quanto sua antecessor­a se perdeu entre falta e excesso de autoridade, entre atitudes como impedir julgamento­s ou revisões e salvar Aécio Neves.

A esperança é a última que morre porque é a primeira que corre.

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