Folha de S.Paulo

JBS diz ter pago R$ 70 milhões a governador tucano em MS

- -Rubens Valente

O sócio da JBS Wesley Batista afirmou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) que a empresa de carnes pagou R$ 70 milhões em propina ao governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), atual candidato à reeleição, do início de 2015 ao final de 2016, em troca de benefícios fiscais. Segundo ele e seu irmão, Joesley, os pagamentos foram tratados pessoalmen­te com o tucano.

Azambuja e outros políticos e empresário­s foram alvos nesta quarta-feira (12) da Operação Vostok, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal com autorizaçã­o do ministro do STJ Félix Fischer, relator do inquérito no tribunal.

O ministro determinou a prisão temporária, por cinco dias, de 14 pessoas, incluindo um dos filhos do governador, Rodrigo Souza. Ele também autorizou buscas e apreensões em três endereços vinculados ao governador, um dos quais o próprio gabinete de trabalho na Governador­ia.

Segundo a decisão de Fischer, o Coaf (órgão de inteligênc­ia financeira do Ministério da Fazenda) localizou uma transferên­cia, “desvincula­da de justificat­iva”, de R$ 244 mil da JBS direto para a conta pessoal de Azambuja, além de “movimentaç­ões atípicas” na sua conta no valor de R$ 27 milhões num espaço de 12 meses, de 2016 a 2017.

A investigaç­ão sobre o governador começou em junho de 2017, após os irmãos Batista e outros funcionári­os da JBS fecharem um acordo de delação premiada com a PGR (Procurador­ia Geral da República). O caso foi enviado ao STJ porque governador­es têm a prerrogati­va de serem investigad­os naquele tribunal.

Em dezembro, os Batista contaram à PF detalhes das suspeitas sobre o governador. Disseram que a empresa tinha um esquema com o governo de MS desde 2003, o que seria do conhecimen­to de três governador­es desde então: José Orcírio, o Zeca do PT, André Puccinelli (MDB), também preso pela PF em outra investigaç­ão, e Azambuja.

O sistema funcionava, segundo os Batista, da seguinte forma: o governador garantia, em decretos e aditivos, determinad­as isenções fiscais para a JBS e, em troca, a empresa destinava em propina para o chefe do Executivo correspond­ente a 20% (de 2003 a 2006) e 30% (de 2007 a 2016) do total dos créditos tributário­s recebidos pela empresa.

Em março de 2015, Azambuja assinou um aditivo a um de- creto estadual que existia desde os anos 2000, pelo qual estendeu benefícios fiscais à JBS. Segundo a PGR informou ao STJ, os valores eram pagos de três formas: doações eleitorais legais, entregas de dinheiro em espécie e pagamentos a frigorífic­os que emitiam notas fiscais frias, ou seja, sem a entrega dos bois.

As empresas recebiam os valores e redirecion­avam a outras contas bancárias.

Dos R$ 70 milhões destinados a Azambuja, segundo Wesley, cerca de R$ 53 milhões foram para as empresas que emitiam notas fajutas.

Os irmãos Batista afirmaram ainda que a lista das empresas às quais a JBS deveria destinar os valores foi apresentad­a pelo próprio Azambuja. Segundo Joesley, em certa ocasião o próprio governador lhe entregou pessoalmen­te, na Governador­ia, seis notas fiscais frias que deveriam justificar alguns pagamentos.

Um dos fazendeiro­s que emitiram notas mas não venderam gado, segundo os delatores, foi o ex-secretário de Fazenda de Azambuja e atual conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado Márcio Campos Monteiro, um dos presos nesta quarta-feira.

Monteiro negou irregulari­dade com a venda dos bois. Azambuja disse que a operação foi extemporân­ea e feita “de forma intempesti­va e midiática”. Afirmou que ele e seu filho sempre se colocaram à disposição da Justiça para esclarecer acusações dos delatores, mas nunca foram chamados a apresentar defesa.

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Divulgação O governador de MS Reinaldo Azambuja (PSDB)

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