Manuela abriu mão de encabeçar chapa para ser vice do PT
Com carreira precoce em campanhas eleitorais, Manuela D’Ávila (PC do B) terá agora, como vice na chapa do PT, a disputa de maior visibilidade de sua carreira.
Antes de selar o acordo ortuto questrado por Lula, porém,Manuela oficializou sua candidatura à Presidência, o que desagradou a muitos petistas. Pela primeira vez desde 1989 o PC do B demonstrava intenção de desvincular-se do PT e ter candidato próprio.
Num congresso do PC do B, Lula tratou de apaziguar os ânimos. “É um direito legítimo [ser candidato]. Se não fosse a minha teimosia e a do PT, eu não teria chegado nunca à Presidência”, afirmou em novembro do ano passado.
Manuela, por sua vez, manifestou diversas vezes que não se oporia a uma composição com o PT já no primeiro turno da disputa. “Nós nunca fomos e nunca seremos óbice à unidade de nosso campo político. Nós precisamos estar unidos para que interrompamos esse ciclo de destruição do Brasil.”
Em 5 de agosto, quatro dias após a convenção que lançou Manuela no pleito para o Planalto, o PC do B firmou aliança com o PT e desistiu de ter um nome próprio na disputa.
Caso a chapa petista vença, será a primeira mulher a ocupar a Vice-Presidência. Em relação a Dilma Rousseff (PT), possui a vantagem de já ter disputado eleições e conhecer mais de perto os meandros do jogo político.
Nascida em Porto Alegre, Manuela iniciou cedo a carreira política. Em 2004, aos 23 anos, elegeu-se vereadora de sua cidade-natal. Em 2006 e 2010 venceu para o cargo de deputada federal com recorde de votos no Rio Grande do Sul.
Na Câmara relatou o Esta- da Juventude e presidiu a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Neste último posto, teve em 2011 um embate com Jair Bolsonaro, então deputado pelo PP, hoje candidato à Presidência pelo PSL.
Manuela pediu na ocasião que o PP indicasse outro deputado para a vaga de Bolsonaro. “Não podemos ter nesta comissão um deputado que não defenda os direitos humanos”, disse ela. “Estou sofrendo preconceito heterossexual”, reclamou Bolsonaro.
Manuela concorreu, sem sucesso, à Prefeitura de Porto Alegre em 2008 e 2012.
Em 2014, trocou Brasília pelo Rio Grande do Sul e elegeuse deputada estadual com a maior votação no estado.
Dois anos depois, uma foto da deputada amamentando a filha na Assembleia Legislativa teve grande repercussão. “A política é masculina e machista, não tem espaço para as mulheres”, escreveu.
Um dos símbolos de sua bandeira contra o preconceito é a frase estampada em suas camisetas: “Lute como uma garota”.
Em junho deste ano, as interrupções a ela por parte dos entrevistadores do programa Roda Viva — ao menos 40, em contagem da Folha— foram classificadas de machistas.
Sobre o tratamento às mulheres no meio político, declarou recentemente à Folha: “Às vezes escuto um elogio fundamentado em preconceitos. É comum ouvir: ‘Nossa, você me surpreendeu por saber falar sobre tal assunto’. Sempre respondo: achava que eu era a parlamentar mais votada do RS há quatro eleições por causa de meus olhos azuis? Eu não tenho os olhos azuis.”