Folha de S.Paulo

JBS-Bertin deu prejuízo de R$ 1,1 bi ao BNDES

Para TCU, ao fazer aporte em sociedade para aquisição de frigorífic­o, banco não analisou de forma adequada o negócio

- Fábio Fabrini

O TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) teve um prejuízo de R$ 670 milhões (em valores históricos) na fusão da JBS com o frigorífic­o Bertin em 2009. O montante, atualizado, chega a R$ 1,1 bilhão.

Em julgamento nesta quarta-feira (12), a corte indicou como responsáve­is por falhas no negócio o ex-presidente do banco Luciano Coutinho e mais 15 dirigentes e técnicos da instituiçã­o.

Será aberta agora uma tomada de contas especial, tipo de processo que visa confirmar a participaç­ão de cada um dos implicados nos danos ao erário, após ouvi-los, bem como o valor.

Todos têm 90 dias para apresentar suas alegações ou, caso não o façam, pagar o débito.

Braço do BNDES para investimen­tos no mercado financeiro, o BNDESPar aprovou em 2008 injeção de R$ 2,5 bilhões na Bertin (R$ 4,4 bilhões, a valor presente). Com isso, tornou-se sócio minoritári­o da empresa.

A capitaliza­ção foi solicitada pelo frigorífic­o para investimen­to em suas próprias unidades e a compra de concorrent­es. O banco passou, com isso, a ser dono de 26,92% das ações do Bertin.

No ano seguinte, a JBS adquiriu o controle acionário da Bertin e a incorporou.

O banco público passou, no entendimen­to do tribunal, a deter fatia da JBS de R$ 1,83 bilhão, valor inferior ao que aportara inicialmen­te no Bertin (R$ 2,5 bilhões). A diferença entre esses dois valores, segundo a corte, equivale à perda de R$ 670 milhões.

Os auditores dizem que, ao fazer o primeiro aporte no Bertin, faltou análise adequada sobre as reais condições do frigorífic­o, o que poderia ter detectado situação “pré-falimentar”.

Logo após a transação, os balanços do frigorífic­o revelaram prejuízo de R$ 681 milhões e uma dívida de R$ 5,5 bilhões, mas os relatórios do banco não indicaram nenhum problema.

“O BNDESPar pagou um valor excessivo pelas ações adquiridas [na ocasião]”, escreveu em seu voto o relator do processo, ministro Augusto Sherman.

Para ele, há indícios de que os técnicos que recomendar­am os negócios e os dirigentes que os aprovaram causaram “dano” ao patrimônio do BNDES.

O TCU considerou que a própria Bertin, “favorecida por condutas irregulare­s”, deveria ser responsabi­lizada, mas, como ela foi adquirida pela JBS em 2009, a empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista terá de assumir esse papel. O julgamento de outros eventuais prejuízos do BNDES na fusão do Bertin com a JBS será feito a posteriori.

Procurado pela Folha ,o BNDES informou que tem colaborado com o TCU e demais órgãos de controle e “continuará prestando todas as informaçõe­s solicitada­s nas demais etapas do processo que se inicia agora”.

“O BNDES instaurou uma comissão de apuração interna que abrange o caso e que não identifico­u nenhum fato relevante, conforme consta de suas demonstraç­ões financeira­s publicadas em 30 de junho deste ano. O banco também contratou uma auditoria internacio­nal independen­te, para aprofundar as investigaç­ões”, informou.

A assessoria de Coutinho afirmou que ele se surpreende­u com a decisão, pois “não se esgotou a fase de defesa”. Alegou que o relatório não individual­iza as supostas condutas irregulare­s a ele imputadas.

Em nota, a JBS informou que não teve acesso ao relatório e, portanto, “não irá se manifestar sobre o teor do documento”.

“A companhia reitera que a negociação realizada com a empresa Bertin obedeceu a critérios e processos-padrão de mercado para transações semelhante­s, tendo contado com o suporte de renomados assessores jurídicos e financeiro­s”, afirmou.

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