Dólar recua após pesquisa Ibope, mas permanece no patamar de R$ 4,15
Ânimo de investidores perde fôlego ao longo do dia e cautela com política prevalece no mercado
O bom humor inicial no mercado após a divulgação de nova pesquisa eleitoral não foi suficiente para sustentar o dólar em patamar abaixo de R$ 4,15 no fechamento desta quarta-feira (12).
A moeda chegou a cair para R$ 4,111 ao longo do pregão, refletindo o otimismo dos investidores com as projeções políticas apresentadas pela pesquisa do Ibope na véspera.
O alívio veio também de um ambiente externo menos desfavorável a países emergentes e em um movimento de correção após outra pesquisa, a do Datafolha, fazer o dólar subir mais de 1% ante o real na terça-feira (11), para R$ 4,155.
A cautela de investidores com as perspectivas políticas e econômicas do Brasil, no entanto, não se dissipou. Mais para o fim das negociações, o dólar desacelerou a queda e fechou em baixa de 0,12%, cotado a R$ 4,15.
O Ibovespa, índice das ações mais negociadas na Bolsa, chegou a avançar cerca de 1%, mas terminou com alta menor, de 0,63%, a 75.124,81 pontos.
O mercado começou o dia respondendo bem ao avanço de Jair Bolsonaro (PSL) no Ibope.
O candidato, que lidera a corrida presidencial, passou de uma intenção de voto de 22% na pesquisa anterior, de 5 de setembro, para 26%.
O aumento foi mais expressivo do que o captado pela pesquisa Datafolha, divulgada na segunda-feira (10), em que Bolsonaro foi de 22% para 24%, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais.
Ambos os levantamentos foram os primeiros após o ataque sofrido pelo candidato na quinta (6).
O mercado havia se frustrado com o Datafolha porque esperava que o atentado pudesse dar mais tração a Bolsonaro e enfraquecer a esquerda.
Na visão de agentes financeiros, essa perspectiva não se cristalizou, e aumentou o risco de um candidato da esquerda chegar ao segundo turno e derrotar Bolsonaro.
“O mercado reagiu à pesquisa eleitoral nesta quarta da mesma forma que ontem. Na véspera, esvaziou a leitura de que a direita poderia se fortalecer após o ataque a Bolsonaro. Hoje [quarta], ela é relativamente recomposta. O mercado vai surfando nisso”, diz Cleber Alessie Machado, operador na H. Commcor.
Ele observa, no entanto, que a alta do dólar na terça (+1,5%) e a queda da Bolsa (-2,3%) fo- ram mais intensas do que o recúo da divisa americana (-0,12%) e o alívio no Ibovespa (+0,63%) neste pregão.
“Quando falamos da entidade ‘o mercado’, precisamos ter em mente que falamos de todos nós, é a empresa exportadora, a pessoa que compra dólar porque precisa viajar. Bancos e fundos são só uma parte dessa história”, diz Luiz Fernando Figueiredo, sócio da gestora de recursos Mauá Capital.
“Hoje, o mercado não está achando nada. A verdade é que ele não sabe para onde ir, então busca se defender.”
Sem um dia de cenário externo mais favorável, o alívio no câmbio poderia ter sido mais modesto, observa An- dré Pimentel, diretor de investimentos da Mirae Asset Global Investments no Brasil.
“O mercado está extremamente preocupado, porque até certo ponto o que se tinha era a decisão se o candidato faria ou não um bom governo. Hoje, o que se apresenta é a necessidade urgente de reformas”, diz.
“Não é um cenário normal, não basta um eleito com boa vontade. É preciso alguém com condições de realizar ajustes”, afirma Pimentel.
O Ibope ouviu 2.002 eleitores de 145 cidades nos dias 8, 9 e 10. A margem de erro é de dois pontos percentuais. O Datafolha entrevistou 2.804 eleitores de 197 municípios na segunda.