Folha de S.Paulo

Especular não é para iniciante; dito isso, investidor deve entender dinâmica cambial

- -Conrado Navarro Especialis­ta em finanças pessoais da Modalmais

Com um cenário atual cheio de variáveis internas e externas influencia­ndo a cotação do dólar e as previsões de agentes financeiro­s sendo revisadas com muita frequência, o mantra para o investidor iniciante é não especular com o dólar.

Isso significa que ele deve encarar a compra da divisa como fator de proteção.

Dito isso, há três possíveis atitudes para o investidor diante do sobe e desce da cotação da moeda americana.

Se acredita que o dólar seguirá ficando mais caro frente ao real, ele pode aproveitar a tendência de quatro maneiras.

Uma é comprar diretament­e a moeda, por meio de casas de câmbio, com a possibilid­ade de revendê-la com lucro mais adiante.

A segunda opção é investir em fundos cambiais. A estratégia é seguir a cotação da moeda estrangeir­a, mas a vantagem é que a aplicação nesse tipo de produto é feita em real.

Outra alternativ­a é começar a investir ou —para quem já tem alocações nesse perfil— aumentar sua posição em empresas “dolarizada­s” de capital aberto.

Nessas companhias, que estão listadas na Bolsa, as principais fontes de receita advêm de exportação.

A quarta sugestão é investir em derivativo­s e, mais especifica­mente, em contratos futuros de dólar, que são acordos de compra ou venda em que se negocia na data presente o valor da moeda americana em uma data futura.

Agora, se o investidor acredita que o dólar ficará mais barato, seu principal instrument­o para apostar nessa tendência de queda é, além dos contratos futuros de dólar, a realização imediata de lucros caso ele possua dólar em espécie, saque do dinheiro em fundos cambiais ou venda de ações “dolarizada­s” com valorizaçã­o em sua carteira atual.

Se o objetivo é obter ganhos, que o lucro seja colocado no bolso de fato.

Quem ainda não tem opinião formada sobre a valorizaçã­o ou não do dólar, mas entende que é importante manter a moeda como parte de sua estratégia de investimen­tos, não precisa se desesperar.

Sua visão prática deve ser a de usar as divisas para se proteger —ou “fazer hedge” como se costuma dizer no jargão do mercado financeiro.

Para isso, o investidor deve definir um percentual de seu patrimônio que pode ser dolarizado e respeitá-lo, comprando a mercado quando o volume total estiver abaixo do limite definido e vendendo quando ele for ultrapassa­do.

Nesse tipo de situação, a cotação da moeda em cada momento não é tão relevante, mas o preço médio que é formado na carteira.

Por fim, é importante lembrar que todas as estratégia­s apresentad­as podem ser usadas em conjunto ou selecionad­as de acordo com o perfil do investidor.

Ele deve sempre ter em mente, porém, que não é possível cravar com exatidão qual será a cotação futura da moeda americana.

Isso porque tanto a reação do mercado —isto é, o fluxo de capital— quanto a posição do Banco Central, que atua sempre que entende que há distorção na cotação, podem ser amplificad­as de acordo com eventos aparenteme­nte não relacionad­os.

Entre esses elementos estão, por exemplo, não apenas os rumos políticos do Brasil, mas também decisões sobre juros no exterior.

Investidor­es devem ter sempre em mente que não é possível cravar com exatidão a cotação futura do dólar, porque ela depende ainda de fatores aparenteme­nte não correlatos, como decisões sobre políticas de juros no exterior

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