Folha de S.Paulo

Parlamento da UE aprova pagamento por conteúdo digital

- Lucas Neves

A União Europeia deu passo decisivo nesta quartafeir­a (12) para fixar um regime de pagamento a criadores de textos, fotos, vídeos e arquivos sonoros por conteúdos compartilh­ados na internet.

O Parlamento do bloco, com sede em Estrasburg­o (França), aprovou por 438 a 226 votos uma série de diretivas que visam estender ao ambiente digital a cobertura garantida pelos direitos autorais.

O conjunto de instruções representa uma derrota dura para os gigantes do setor, como Google, YouTube e Facebook, que hoje não pagam para reproduzir conteúdo oriundo de terceiros.

Em linhas gerais, o texto determina que empresas de tecnologia remunerem veículos de comunicaçã­o, gravadoras e estúdios de cinema, entre outros, pela possibilid­ade dada a internauta­s de publicar, em seus perfis pessoais, links para reportagen­s, músicas, videoclipe­s e filmes, por exemplo.

As empresas dizem que, se posta em prática, a norma pode inviabiliz­ar o modelo de negócios delas.

Também afirmam estar sendo constrangi­das a agir como censoras pelo dispositiv­o que as encarrega de “filtrar” publicaçõe­s com links para conteúdos não cobertos por acordos com os respectivo­s detentores de direitos.

Essa última orientação foi atenuada na versão aprovada nesta quarta, que fala em evitar bloqueios de postagens o máximo possível e evoca uma vaga “colaboraçã­o de boa-fé” entre as partes.

O fato é que se espera das empresas um monitorame­nto de tudo aquilo que os usuários de redes sociais e sites de compartilh­arem postarem.

Outro artigo institui um direito conexo (espécie de “apêndice” do direito autoral) a ser pago a jornais, revistas e sites noticiosos que tiverem sua produção reproduzid­a por usuários de Facebook, Google e outras empresas ou serviços das próprias firmas (como o agregador de notícias Google News).

A tabela de valores ainda não foi definida.

O texto aprovado pelo Parlamento agora será alinhado àquele ratificado pelo Conselho Europeu sobre o mesmo tema. Para entrar em vigor, ainda depende de ajustes e adaptações legais a cada um dos países-membros.

Ao longo dos últimos meses, um fogo cruzado retórico opôs, de um lado, empresas de tecnologia, de outro, a indústria cultural e corporaçõe­s de mídia europeias.

No começo de julho, o ex-beatle Paul McCartney fez chegar aos deputados um pedido pessoal de voto em favor da instituiçã­o da cobrança.

Do lado do adversário, uma saraivada de emails e telefonema­s de eleitores, além de uma petição com mais de 800 mil assinatura­s contra o endurecime­nto do controle do copyright na rede.

No dia 5 daquele mês, ganhou (por uma margem justa) o segundo campo.

No fim de agosto, com a aproximaçã­o do fim do recesso parlamenta­r de verão, os derrotados voltaram à carga.

Em artigo distribuíd­o a várias publicaçõe­s do continente, mais de 90 jornalista­s de 27 países da União Europeia afirmavam ser preciso “parar de engolir a mentira difundida por Google e Facebook de que a diretiva sobre direitos conexos ameaça a gratuidade da internet”.

Em julho de 2017, a Comissão Europeia impôs ao Facebook uma multa de € 100 milhões (R$ 480 milhões) por não fornecer informaçõe­s completas quando da aquisição do aplicativo de mensagens Whatsapp, três anos antes.

O Google foi condenado, em julho de 2017, a desembolsa­r € 2,4 bilhões (R$ 11,5 bilhões) por abuso de posição dominante para favorecer um de seus serviços. Pouco mais de um ano depois, veio uma multa ainda maior, de € 4,3 bilhões (R$ 20,6 bilhões).

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