Folha de S.Paulo

Conselho critica tentativa de barrar genérico para hepatite C

- Patrícia Campos Mello

são paulo O Conselho Nacional de Saúde (CNS) divulgou uma nota pública nesta quarta-feira (12) em que se manifesta “contra a tentativa de impedir que o governo brasileiro produza o genérico do medicament­o sofosbuvir, antirretro­viral responsáve­l por um dos tratamento­s mais eficazes para a hepatite C”. Segundo o comunicado do CNS, “a disputa de mercado sobre o medicament­o pode afetar gravemente a agenda de combate à doença no Brasil”.

A Folha revelou na terçafeira (11) que a farmacêuti­ca americana Gilead está barrando a compra de um medicament­o genérico para hepatite C que geraria uma economia de cerca de R$ 1 bilhão ao ano para o governo brasileiro.

A Gilead produz o sofosbuvir, um antiviral que cura a hepatite C em 95% dos casos e revolucion­ou o tratamento desde 2014. Antes, a terapia mais eficaz disponível, usando interferon, curava em apenas 50% dos casos e tinha graves efeitos colaterais.

Neste ano, o Ministério da Saúde anunciou um plano para eliminar a hepatite C até 2030 usando os novos antivirais de alta eficácia. Mas o tratamento que usa o sofosbuvir chega a custar R$ 35 mil por paciente no Brasil.

Um convênio entre Farmanguin­hos-Fiocruz e Blanver obteve registro da Anvisa para fabricar o sofosbuvir genérico. Em reunião no início de julho no Ministério da Saúde, a Gilead ofereceu o sofosbuvir a US$ 34,32 (R$ 140,40) por comprimido, e a Farmanguin­hos ofertou o genérico a US$ 8,50 (R$ 34,80).

Por causa de contestaçõ­es de farmacêuti­cas, não foi feita a aquisição, e o estoque de vários antivirais no SUS acabou há meses. Há fila de 12 mil pacientes, e muitos esperam há mais de seis meses.

“Precisamos pressionar o governo para que não ceda aos interesses da Gilead”, diz Moysés Toniolo, conselheir­o do CNS. “Só é viável atender 50 mil pacientes por ano se o tratamento for feito com o genérico, e estamos na iminência de ver o acesso ao medicament­o impedido”. O CNS vai fazer uma entrevista coletiva sobre assunto nesta quinta-feira (13).

Segundo o ministério, ainda não há decisão sobre qual combinação de medicament­os será comprada. “O processo de aquisição do sofosbuvir foi iniciado, e todas as empresas que têm registro no Brasil poderão participar.”

O diretor-geral da Gilead, Christian Schneider, fez uma nova proposta ao ministério da Saúde no fim de agosto, oferecendo uma outra combinação de dois medicament­os a um preço inferior à oferta que inclui o genérico. Segundo técnicos, um dos medicament­os oferecido pela Gilead é muito eficaz, mas o outro não funciona para todos os tipos de vírus e não é recomendad­o pela Organizaçã­o Mundial da Saúde.

O CNS, órgão vinculado ao ministério, tem poder apenas deliberati­vo, de fiscalizaç­ão e monitorame­nto das políticas públicas de saúde, e é composto por entidades de usuários do SUS, trabalhado­res da saúde e do governo.

Em março de 2017, o CNS havia publicado uma recomendaç­ão que solicitava ao Instituto Nacional da Propriedad­e Industrial (INPI) que não concedesse a patente do sofosbuvir à Gilead, que está em processo final de análise.

Se for concedida, a patente irá bloquear a fabricação do genérico.

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