Folha de S.Paulo

Técnicas convencion­ais ganham mais eficiência

Combinação de métodos e aparelhos de última geração aumentam sucesso e reduzem efeitos colaterais de radio e químio

- Iara Biderman

Técnicas de imagem, aparelhos eletromagn­éticos de última geração e medicament­os combinados são estratégia­s usadas em centros médicos e de pesquisa para tornar tratamento­s tradiciona­is do câncer, como químio e radioterap­ia, mais eficazes e menos agressivos.

Esses recursos criam uma área chamada de intervençã­o oncológica, para se distinguir da oncologia clínica convencion­al (responsáve­l pelo tratamento medicament­oso) e da cirúrgica, diz Rodrigo Gobbo, gerente médico do Centro de Medicina Intervenci­onista do hospital Albert Einstein.

Um exemplo é o uso do velho e bom cateter guiado por aparelhos de imagem para levar quimioterá­picos diretament­e ao local da lesão. O processo é quase uma quimiotera­pia tópica, em oposição a infusões ou a comprimido­s, que atingem toda a circulação.

A ação localizada permite o uso de doses muito mais altas do que na administra­ção sistêmica do medicament­o, por reduzir efeitos colaterais.

Uma técnica similar é colocar o medicament­o numa espécie de agulha eletrônica, conduzida até o tumor. Ou usar o cateter para colocar partículas radioativa­s só na lesão, um procedimen­to chamado radioembol­ização.

Na radioterap­ia, modelos atualizado­s dos aparelhos ou softwares mais avançados para os equipament­os existentes alcançam a precisão necessária para atingir o que deve ser exterminad­o e preservar os tecidos em volta.

Isso reduz o número de sessões de radiação e eleva a chance de sucesso da terapia eaqu alidade de vidado doente durante e depois dot ratamento. Atécnicaé especialme­nte útil em tumores de próstata, para impedir que abexiga, ore toe outros tecidos próximos sejam afetados.

No Hospital Sírio-Libanês, um novo programa permite identifica­r a posição da próstata em tempo real, no momento mesmo da aplicação da radiação. Outro programa faz com que microlâmin­as assumam o formato da área a ser tratada, esculpindo a radiação nos contornos do tumor.

Juntos, o GPS de próstata e o escultor de raios reduzem o total de aplicações necessária­s. Em média, o número de sessões cai das 20 na terapia convencion­al para 5.

A mesma tecnologia pode ser usada em tumores pequenos

Como o câncer não é apenas uma doença, mas várias, a resposta de sucesso caminha para a personaliz­ação dos tratamento­s

de pulmão, fígado e pâncreas, diz João Luis Fernandes da Silva, diretor-adjunto de radioterap­ia do Sírio-Libanês.

No hospital Oswaldo Cruz, o aparelho chamado intrabeam é uma versão miniaturiz­ada do equipament­o tradiciona­l de radioterap­ia. Por ser portátil, fica no centro cirúrgico, evitando transtorno­s de levar o paciente recém-operado para a sala de radioterap­ia.

No caso do câncer de mama, pode ser feita uma única aplicação (a terapia tradiciona­l exige de 16 a 30 sessões) e com a vantagem dos novos aparelhos, que usam acelerador linear para personaliz­ar raios de alta energia, adaptando-os à forma do tumor. O acelerador usa tecnologia de micro-ondas para converter energia elétrica em radiação. Sistemas internos de controle garantem que a dose não seja mais elevada que a prescrita.

O uso dos acelerador­es somado à melhoria dos softwares das máquinas muitas vezes evita a cirurgia, diz Paulo Hoff, diretor-geral do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.

Também permite tratamento­s minimament­e invasivos, como a radiocirur­gia esterotáxi­ca intracrani­ana. No procedimen­to, altas doses de radiação são aplicadas em uma região do cérebro, em fração única. O equipament­o permite a aplicação precisa e bem localizada da radiação, matando as células cancerosas.

Terapias com aparelhos de última geração são mais indicadas para tumores pequenos e localizado­s. Não são para tudo —mas isso é a regra para qualquer tratamento de câncer, inclusive para a imunoterap­ia, que é o que há de mais promissor no mundo, segundo Paulo Hoff.

“As pessoas têm a convicção de que um tratamento vai curar tudo. Impossível, o câncer não é uma doença, são várias. A resposta é a personaliz­ação das terapias oncológica­s.”

 ?? Eduardo Knapp/Folhapress ?? Equipament­o de radioterap­ia de última geração utilizado em tratamento oncológico no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo
Eduardo Knapp/Folhapress Equipament­o de radioterap­ia de última geração utilizado em tratamento oncológico no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo

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