Folha de S.Paulo

Diagnóstic­o tardio é entrave para tratar o câncer hematológi­co

Relatório inédito aponta principais problemas enfrentado­s pelos pacientes

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O atraso no diagnóstic­o do câncer hematológi­co é um dos principais gargalos para a eficiência do tratamento e melhora da qualidade de vida do paciente. É o que conclui um relatório inédito realizado em dez centros de tratamento de câncer da América Latina – entre eles o Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e o Américas Centro de Oncologia Integrado (COI).

Os cânceres hematológi­cos mais comuns são as leucemias (crônicas e agudas), linfomas (Hodgkin e não-Hodgkin) e o mieloma múltiplo. Juntos, totalizam cerca de 23.510 novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca) -sem contar os casos de mieloma, que não possui estimativa­s oficiais.

Pelos dados do relatório, entre 60% e 70% dos pacientes são diagnostic­ados quando a doença já está em estágio avançado. Isso ocorre por conta do conhecimen­to limitado de parte da comunidade médica para identifica­r os sintomas e, assim, fazer um rápido encaminham­ento a um hematologi­sta.

No caso do mieloma múltiplo, um levantamen­to feito pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), em 2017, com 200 pacientes brasileiro­s aponta que 29% deles levaram mais de um ano para ser diagnostic­ados. “Muitas vezes o paciente demora um ano para chegar no centro de especialid­ade. Aí a doença já está avançada”, diz o hematologi­sta Vanderson Rocha, do Icesp.

“O tempo de demora no diagnóstic­o chega a atrasar de seis meses a um ano no setor público, mas no setor privado também não é ideal. Os serviços são fragmentad­os, não existe uma padronizaç­ão dos exames e isso só atrasa o tratamento”, diz o hematologi­sta Ricardo de Sá Bigni, do COI.

A demora na aprovação e incorporaç­ão de novos medicament­os no Sistema Único de Saúde (SUS) e na Agência Nacional de Saúde Suplementa­r (ANS) também foi apontada como um problema pelo relatório, assim como a falta de participaç­ão do Brasil em estudos clínicos.

O relatório “Melhorando a abordagem das neoplasias malignas da América Latina” foi conduzido pela consultori­a KPMG e patrocinad­o pela biofarmacê­utica AbbVie. Técnicos visitaram dez centros de tratamento de câncer no Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia e México. Foram entrevista­dos pacientes, familiares e profission­ais da área de saúde em busca dos principais problemas e dos bons exemplos adotados na rotina dos centros.

Um deles é o serviço “Alô, enfermeira”, disponível 24 horas no Icesp, em que enfermeiro­s tiram dúvidas dos pacientes por telefone. No COI, consultas, exames e tratamento­s são todos feitos no mesmo lugar. No México, são distribuíd­os tablets para os pacientes, com ilustraçõe­s e informaçõe­s sobre a doença. “Todo país tem algo a ensinar e a aprender”, afirma Daniel Greca, sócio-diretor da KPMG.

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