Folha de S.Paulo

Índice de brancos e nulos é superior ao de 2014

Segundo o Datafolha, 13% declaram que não escolherão candidato; convicção do grupo só perde para eleitores de Bolsonaro e de Haddad

- Isabel Fleck

são paulo A artesã Soeli Aparecida Maia, 59, nunca anulou o voto, mas já decidiu que, em 2018, essa será a sua opção na urna. Mulher, com idade acima dos 45 anos, moradora do interior, Soeli está dentro do perfil dos eleitores onde o voto nulo é mais popular. E, nestas eleições, ele deve ser mais forte do que nas últimas quatro eleições.

A pouco menos de um mês das eleições, 13% dos eleitores se dizem dispostos a anular seu voto ou votar em branco para presidente, segundo pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira (14). Dos que optam pelo voto nulo ou branco, 61% dizem que não mudarão de opinião.

O índice é bem superior ao encontrado em pesquisas Datafolha feitas cerca de um mês antes das eleições de 2014, 2010, 2006 e 2002 — era 6% em 2014 e 4% nas demais.

Se seguir o exemplo dos dois últimos pleitos, a parcela de quem não vai optar por nenhum candidato ainda pode ser mais expressiva nas urnas: em 2014, 9,6% dos eleitores de fato anularam ou votaram em branco. Em 2010, foram 7%.

O voto nulo e branco também só não perde em convicção, nas últimas pesquisas, para os votos declarados em Jair Bolsonaro (PSL) e em Fernando Haddad (PT). No levantamen­to divulgado na sexta, 75% e 72% diziam estar “totalmente decididos” a votar nesses candidatos, respectiva­mente.

Soeli é uma das eleitoras que se diz disposta a manter sua decisão de anular até o segundo turno. “Há várias eleições, a gente escolhe entre o ruim e o pior, por isso o Brasil está onde está. Agora resolvi dar um basta. Pelo menos da minha parte, não vou colocar nem o ruim e nem o pior lá”, afirma ela, que mora em Sonora, cidade de 15 mil habitantes no norte do Mato Grosso do Sul.

Para o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, o alto índice de intenções de voto nulo ou branco —e de convicção— revela uma “manifestaç­ão de descontent­amento dos eleitores, de não se sentirem contemplad­os pela oferta de candidatos e de partidos que está aí”.

“O que a gente tem até aqui mostra ser grande a probabilid­ade que a gente tenha uma taxa de brancos e nulos maior do que nas últimas eleições”, diz Paulino.

O cenário com alto índice de votos brancos e nulos favorece o candidato que está na liderança, já que diminui o universo dos votos válidos e, por consequênc­ia, o número de votos necessário­s para passar para o segundo turno ou para ser eleito em primeiro turno.

A eleitora Fabiana da Costa, 39, que mora em São Paulo, diz não se importar que seu voto nulo acabe benefician­do um candidato que ela não apoie. “Medo a gente tem do futuro, mas eu sinceramen­te pretendo anular mesmo. Não confio em nenhum dos que estão aí.”

Desemprega­da e com uma filha de 10 meses, Fabiana se diz desiludida com o cenário político —e afirma que só irá até a seção eleitoral no dia do pleito para não ter complicaçõ­es com o título de eleitor quando conseguir um trabalho.

Para o vigilante Reinaldo Dantas, 54, de Carapicuíb­a (SP), no entanto, o voto nulo será uma forma de protesto. Ele, que já anulou nas eleições municipais de 2016, quer repetir agora a sensação de sair da seção eleitoral “de cabeça erguida”.

“Eu não vejo nenhum plano de governo a favor da nação. Eu gostaria que todo mundo desse uma resposta nas urnas”, afirma Dantas.

Segundo o último Datafolha, mais da metade dos que declararam votar branco ou nulo continuam com esta opção no segundo turno, em todos os cenários apresentad­os.

No universo total, o cenário de segundo turno que teria menos votos nulos ou brancos (15%) é uma eventual disputa entre Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT). Em três outros cenários, o número de votos em nenhum candidato chega a 25%: quando Geraldo Alckmin( PSD B ), Marina Silva( Re- de) ou Ciro enfrentamH­add ad.

Além das mulheres e eleitores mais velhos e do interior, o voto nulo ou branco faz mais sucesso entre quem tem formação até o ensino médio e renda mensal de até dois salários mínimos (47% dos que anulam têm esse perfil).

Dentro do grupo, 73% também dizem não ter partido de preferênci­a e 28% rejeitam todos os candidatos. Bolsonaro, Marina e Haddad são os menos populares entre os que pretendem anular, com 39%,20% e 16% dizendo que nunca votariam neles, respectiva­mente.

Ainda não está claro o quanto a oficializa­ção da candidatur­a de Haddad, na última semana, poderia impactar nos próximos dias no número de nulos e brancos. No entanto, 55% dos que declaram esse voto respondera­m que não apoiariam um candidato indicado pelo ex-presidente Lula.

Outra peculiarid­ade das eleições deste a noé a alta parcel ade indecisos a um mês das eleições. Na resposta espontânea, quando o entrevista­dor não mostra ao entrevista­do a lista de candidatos, 32% disseram não saber em quem vão votar. Em 2014, esse índice era de 29% no mesmo período.

“Isso revela um comportame­nto desta eleição, de eleitores mais cautelosos, que esperam para decidir mais para afrente ”, diz Paulino.

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Karime Xavier/ Folhapress A eleitora Fabiana da Costa, 39, que votará nulo, com a filha Maria, 10 meses, em sua casa em São Paulo

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