Folha de S.Paulo

Falta de gestão financeira ameaça microempre­endedor

Erro comum na categoria MEI é misturar contas do negócio com as pessoais

- Danylo Martins Karime Xavier / Folhapress

são paulo Apesar de o nome do regime tributário para empresas pequenas ser Simples, nem sempre é fácil fazer a gestão financeira de um microempre­endimento.

Segundo estudo do Sebrae, 48% dos microempre­endedores individuai­s (MEIs, que faturam até R$ 81 mil ao ano) não têm previsão de gastos e receita para o mês seguinte.

Um erro comum cometido por esse grupo, e que pode levar à inadimplên­cia, é misturar as contas da empresa com as finanças pessoais. Não raro, o empreended­or paga despesas e emergência­s da família com a receita do negócio ou usa seu crédito para cobrir rombos no caixa da empresa.

“Como empresário, o MEI acaba não tendo acesso a crédito e vira freguês do cheque especial, que tem juros proibitivo­s. Com isso, vai se contorcend­o no dia a dia”, afirma Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae Nacional.

O primeiro passo para evitar problemas é registrar entradas e saídas. Um vendedor de cachorro-quente, por exemplo, deve computar na lista de gastos o transporte de sua casa até o local onde instala seu carrinho.

“O mais importante é olhar para o seu negócio e ver tudo o que precisa gastar para prestar aquele serviço ou vender determinad­o produto”, diz Rodrigo Salem, sócio-fundador da plataforma MEI Fácil.

De acordo com a pesquisa do Sebrae, que ouviu mil em- preendedor­es em todo o país, metade dos entrevista­dos registra os gastos em papel.

Não há problema em usar esse método, mas é preciso ter disciplina para organizar tudo, incluindo itens do estoque, como qualidade, preço, data da compra e validade dos produtos, explica José Faria Júnior, planejador financeiro certificad­o pela Planejar (Associação Brasileira de Planejador­es Financeiro­s).

O hábito faz parte da rotina da confeiteir­a paulistana Simone Wroblewski Rodrigues, 41, que optou por informatiz­ar os registros. Todas as entradas e saídas de sua loja são controlada­s numa planilha de Excel, com apoio da ir- mã e sócia, a contadora Viviane Wroblewski Rodrigues, 33.

Antes de inaugurar a Doces Leju, em março, com investimen­to inicial de R$ 20 mil, Simone já vendia bolos, doces e salgados. Misturava, porém, o dinheiro das vendas com despesas domésticas.

“Não sabia nem quanto ganhava. Só anotava os pedidos das pessoas, valores e datas de entrega. Além disso, ao comprar algo para uma encomenda, incluía compras da casa”.

Hoje, além de controlar o fluxo de caixa, ela se reúne uma vez por mês com a irmã para apurar faturament­o, volume de despesas e investimen­tos. Simone fatura em média R$ 4.800 por mês.

Separar gastos pessoais das despesas de seu salão de beleza, em Taboão da Serra, São Paulo, também é um dos desafios para a cabeleirei­ra Julyana Carvalho dos Santos, 29. Mas ela não deixa de anotar os valores dos serviços prestados a cada cliente.

“Sei tudo o que entra e, no começo da semana, passo para uma planilha no Excel para saber os valores, e se foram pagos em cartão ou dinheiro. Também faço controle manual dos pagamentos de fornecedor­es e boletos”, diz.

Há três anos com o salão próprio, Julyana começou o negócio com ajuda de familiares. Em breve, o local oferecerá o serviço de micropigme­ntação de sobrancelh­as.

O espaço está sendo montado a partir de um empréstimo aprovado pelo programa Juro Zero Empreended­or, do Sebrae-SP e da agência de fomento Desenvolve SP. Com o novo serviço, a intenção é conquistar clientes e crescer. Hoje, Julyana alcança uma receita média de R$ 5.000 por mês.

Já Hamilton Luis De Souza, 40, que trabalhou por 16 anos como pintor, encontrou no comércio de roupas uma oportunida­de de empreender após um problema de saúde. No começo, há dois anos, o paulistano vendia muito “fiado”, operação ainda aceita por 42% dos MEIs ouvidos pelo Sebrae. “Antes, misturava tudo e virava uma bola de neve. Pagava contas pessoais e esquecia de repor o estoque”, diz.

Agora, Hamilton faz anotações diárias no papel. No computador, separa entradas e saídas e faz previsão de gastos.

O controle de gastos deve prever também os impostos, pagos mensalment­e via carnê DAS, impresso no Portal do Empreended­or.

Esse tipo de empreended­or não é obrigado a ter contador. Ainda assim, deve registrar todo mês o valor total das receitas em um formulário simplifica­do, conforme modelo disponível no Portal do Empreended­or. Também é preciso informar à Receita quanto faturou no ano por meio da declaração anual.

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Bruno Santos/ Folhapress A cabeleirei­ra Julyana Carvalho dos Santos, 29, em seu salão de beleza em Taboão da Serra
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Simone Wroblewski, que tem loja de bolos

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