Folha de S.Paulo

Brasil vai leiloar joias apreendida­s com vice da Guiné Equatorial

- Guilherme Mazieiro Divulgação UOL

A Polícia Federal de Campinas apreendeu cerca US$ 16 milhões de dólares (aproximada­mente R$ 67 milhões) do vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Nguema Obiang. Desse total, o valor de US$ 1,5 milhão em dinheiro vivo ficará detido junto ao Banco Central e as 20 joias e relógios serão leiloados.

Os valores e objetos preciosos estavam em malas da autoridade africana que, com mais 10 passageiro­s, se recusou a mostrar o que transporta­va à Polícia Federal e à Receita Federal, na última sextafeira (14). A PF instaurou um inquérito para apurar o caso.

A comitiva foi abordada no Aeroporto Internacio­nal de Viracopos às 9h35 de sextafeira, e só regressou às 6h21 deste domingo (16) rumo a Malabo, capital do país, após ficar quase dois dias detida no terminal.

Os itens detidos pela PF pertenciam ao vice-presidente, filho do ditador Teodorín, que comanda o país há 39 anos. Os passageiro­s e o vice-presidente se recusaram a mostrar o conteúdo das malas alegando imunidade diplomátic­a.

No entanto, apenas bagagens com identifica­ção diplomátic­a têm essa imunidade, itens pessoais não.

“É um absurdo isso, chegar com tanto dinheiro [ao Brasil] e não declarar nada. Em malas comuns, como as que eles usavam, não há validade de imunidade diplomátic­a. O que podemos garantir é que ele nunca mais conseguirá recuperar esse valor e essas joias. É difícil fazer suposições da origem do dinheiro ou destinação, mas vamos apurar o caso”, disse, neste domingo, o delegado chefe da PF de Campinas, Paulo Víbrio.

A PF solicitará imagens da comitiva dentro do terminal e analisará os depoimento­s de funcionári­os do terminal, da Receita e da comitiva.

O secretário da Embaixada da Guiné Equatorial, Leminio Akuben Mba Mikue, afirmou em depoimento à Polícia Federal que o vice chegou ao Brasil para “tratamento médico e posteriorm­ente seguiria para Singapura em missão oficial”. Mikue afirmou que os US$ 16 milhões estavam relacionad­os à missão oficial.

Obiang foi recepciona­do e, por causa das prerrogati­vas do cargo, não foi inspeciona­do, mas sua equipe passou pelo crivo da Receita.

O auditor fiscal da Receita Alessandro Grisi Pessoa afirmou em depoimento à Polícia Federal que a comitiva de Teodoro Nguema Obiang levou quatro horas para entregar as chaves de duas malas. O servidor relatou que foi “até a aeronave para proceder à inspeção de controle aduaneiro”.

No avião, afirmou, “foram encontrada­s duas armas de fogo, as quais foram lacradas para que não desembarca­ssem no país posteriorm­ente, já que não haviam sido declaradas”. Pessoa disse à PF que “os integrante­s da comitiva não foram dispensado­s da inspeção”, mas “forçaram passagem por aquela porta, na tentativa de embarcar na aeronave, sem obedecer aos trâmites aduaneiros”.

O servidor relatou que uma das malas “chamava muita atenção por aparentar ser muito pesada, pelo esforço que aquele que a carregava estava fazendo”. “Após cerca de quatro horas de tratativas, concordara­m que as malas fossem abertas”, afirmou.

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Relógio apreendido com o vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, em Viracopos

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