Folha de S.Paulo

Indicado de Trump à Suprema Corte vai depor no Senado

Presidente diz que adiamento de votação para aprovar escolha é possível, mas defende nomeação de Kavanaugh, acusado de agressão

- Júlia Zaremba

Indicado pelo presidente Donald Trump para a Suprema Corte dos EUA, Brett Kavanaugh falará ao Senado na segunda (24).

Ele foi acusado por Christine Ford de agressão sexual —a professora também vai depor. A audiência adiará a votação sobre a nomeação do juiz conservado­r, que seria nesta quinta (20).

O senador republican­o Charles Grassley (Iowa), presidente do Comitê de Justiça do Senado, chamará o juiz Brett Kavanaugh e a professora de psicologia Christine Blasey Ford, que o acusa de tê-la agredido sexualment­e, para uma audiência pública na próxima segunda (24). Isso levará a um adiamento da votação pelo Senado da nomeação de Kavanaugh, indicado de Trump, para a Suprema Corte dos Estados Unidos, que estava marcada para esta quinta-feira (20). Durante a tarde destea segunda, a Casa Branca havia afirmado que Kavanaugh estava disposto a participar de uma audiência onde poderia “limpar seu nome dessa falsa alegação”. “Ele está pronto para testemunha­r amanhã, se o Senado estiver pronto para ouvi-lo”, afirmou uma porta-voz do governo. Já a advogada de Ford disse durante a manhã à emissora NBC que a vítima está disposta a “fazer o que for preciso para levar a sua história adiante.” Trump defendeu seu escolhido nesta segunda. Disse que o juiz é “excepciona­l, respeitado por todos” e “que nunca teve sequer uma pequena mancha em seu histórico”. Disse ainda que desejava que os democratas tivessem trazido a questão à tona antes, “já que tinham as informaçõe­s [sobre o assédio] havia meses”, e que tem confiança no Senado e em seus procedimen­tos. “Eu gostaria de ver um processo completo”, disse. “Se houver um pequeno atraso, haverá um pequeno atraso.” Questionad­o por uma jornalista se Kavanaugh havia considerad­o retirar sua nomeação, Trump disse que a pergunta era “ridícula”. Ford contou detalhes do episódio, que segundo ela ocorreu no início dos anos 1980 durante um encontro de adoles- centes no condado de Montgomery, em Maryland, ao jornal americano The Washington Post neste domingo (16).

Ela afirma que Kavanaugh, bêbado, a forçou a deitar em uma cama de costas e a bolinou, esfregando seu corpo contra o dela. Ele também teria tentado tirar seu maiô e as roupas que vestia por cima.

“Achei que ele pudesse me matar sem querer”, contou Ford ao jornal. “Ele tentou me atacar e tirar minha roupa.”

Quando a então adolescent­e tentou gritar, ele colocou a mão em sua boca, segundo ela, que conseguiu escapar após um amigo dele, que assistia a tudo, pular sobre eles.

Na época, Kavanaugh tinha 17 anos e estudava na Escola Preparatór­ia de Georgetown, escola de elite para meninos. Ela, com 15 anos, frequentav­a uma instituiçã­o próxima. Ford só teria falado a alguém do ataque em 2012, enquanto fazia terapia de casal.

Em julho, por meio de uma carta confidenci­al, a professora relatou o episódio à senadora democrata Dianne Feinstein, do Comitê Judiciário do Senado. Decidiu vir a público após a história ser divulgada sem seu consentime­nto.

Na última semana, quando a história começou a circular, Kavanaugh afirmou que “categorica­mente e inequivoca­mente nega essa alegação”. “Eu não fiz isso no ensino médio ou em qualquer outra época”, afirmou.

Kavanaugh se posicionou novamente sobre a acusação nesta segunda (17).

“Essa é uma alegação completame­nte falsa. Eu nunca fiz nada parecido com o que a acusadora descreve —contra ela nem contra qualquer pessoa”, afirmou. “Pelo fato de isso nunca ter ocorrido, eu não tinha ideia de quem havia feito a acusação até ela se identifica­sse neste domingo.”

Até hoje, só um indicado à Suprema Corte foi vetado nos EUA: Robert Bork, indicado por Ronald Reagan, em 1987.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil