Folha de S.Paulo

Indulto a ex-presidente preso é discutido no PT

- Catia Seabra e Felipe Bächtold

são paulo Parte dos dirigentes do PT defende que o expresiden­te Lula seja beneficiad­o com um indulto caso o partido consiga eleger o próximo presidente na eleição de outubro.

A hipótese já foi levantada em reuniões do partido, embora publicamen­te líderes petistas não confirmem que o assunto seja aventado.

O candidato do partido à Presidênci­a, Fernando Haddad, tem dito que o próprio Lula descarta a probabilid­ade e defende que saia da cadeia provando na Justiça que é inocente. Presidente nacional da legenda, a senadora paranaense Gleisi Hoffmann já afirmou que Lula vai sair da prisão provando que não cometeu crimes.

A possibilid­ade voltou à discussão na campanha eleitoral após o presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL) afirmar no domingo (16) que o plano de Lula é eleger Haddad para sair da cadeia. O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) diz que a discussão nunca foi vocalizada no partido e que se trata de “fake news”.

A Constituiç­ão prevê que o presidente da República decrete o indulto de condenados. O indulto individual, chamado de “graça”, está previsto na legislação e pode ser concedido mediante pedido de um condenado.

Porém não existe no Brasil uma tradição em expedir esse tipo de decisão de maneira isolada. Especialis­tas nem sequer lembram casos em que a medida foi concretiza­da.

O indulto coletivo costuma ser concedido após decreto presidenci­al na época do Natal que traça parâmetros a beneficiad­os. No fim de 2017, decreto do presidente Michel Temer que ampliava as hipóteses de indulto em relação ao ano anterior acabou sendo suspenso pelo Supremo Tribunal Federal. Houve críticas da forçataref­a da Operação Lava Jato, para quem a medida poderia provocar impunidade.

O professor de direito da USP Alamiro Velludo afirma que a decisão de conceder indulto ou graça por um presidente da República envolve um componente político. O professor já presidiu o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá­ria, órgão ligado ao Ministério da Justiça que avalia esse tipo de situação.

“Comumente chegam pedidos de graça ao conselho ou até o Ministério da Justiça e não há propriamen­te um encaminham­ento disso. Mas nada impede.”

Velludo afirma que a concessão do benefício é uma tradição europeia contra “o excesso de rigor das leis”.

“Na Europa há gradativam­ente uma diminuição da incidência de indulto, para evitar a utilização política. Na Espanha houve muito esse problema, de indultos que favoreciam circunstan­cialmente aliadas ao grupo político da ocasião.”

Para o advogado e professor de direito Tércio Sampaio Ferraz Júnior, o benefício a um único indivíduo “mexe com critérios de igualdade e de privilégio­s”. “Por que dar para um e não dar para outro?”

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