Ex-presidente do STJD é acionista de vencedora de licitação da CBF
Chefe do órgão na gestão Del Nero, Caio Cesar Vieira Rocha diz que sua participação é apenas temporária
Eleito presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) em 2014, mesmo ano em que Marco Polo Del Nero foi escolhido para a presidência da CBF, o advogado Caio Cesar Vieira Rocha, 37, é o acionista por trás do aporte de R$ 150 milhões que formou o capital social da BR Foot Mídia.
A empresa foi a vencedora de uma concorrência promovida pela confederação para venda dos direitos de transmissão internacionais e exploração da publicidade estática do Campeonato Brasileiro.
A Folha teve acesso à documentação da BR Foot Mídia na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp).
Em uma ata de 7 de junho, é informado que “as ações ora emitidas foram totalmente subscritas nesta data, pelo acionista Caio Cesar Vieira Rocha e serão integralizadas no prazo de 24 meses”.
Procurado pela reportagem, Rocha confirmou a informação. Ele afirmou, no entanto, que a sua participação como sócio principal na empresa é apenas temporária.
“Como advogado, fui encarregado de viabilizar uma forma adequada para transferir ações para a empresa. A BR Foot Mídia está sendo incorporada nesta semana a uma empresa americana chamada Futbol Holdings, que vai congregar todos os investidores e os sócios”, disse Rocha.
Segundo o advogado, um dos sócios investidores da Futbol Holding é a FanHero, especializada no desenvolvimento de aplicativos com sede em Orlando (EUA). A empresa já trabalhou com o Vasco da Gama e atualmente tem negócios com o Orlando City.
“A FanHero é um parceiro técnico, operacional e financeiro. É um projeto pioneiro”, disse Humberto Farias, 35, sócio da companhia.
“Quando se monta uma empresa, você precisa criar e constituir com um sócio brasileiro, para depois repassar adiante”, declarou Rocha. Caio Cesar Vieira Rocha, 37 Presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) de 2014 a 2016, foi eleito após indicação da CBF. Ele é o acionista por trás do aporte de R$ 150 milhões que formou o capital social da BR Foot Mídia, empresa vencedora de concorrência promovida pela CBF para venda dos direitos de transmissão internacionais e exploração da publicidade estática do Campeonato Brasileiro
O advogado entrou no STJD em 2006, por indicação de Fábio Koff, então presidente do extinto Clube dos 13.
Foi eleito presidente do tribunal em junho de 2014, dois meses depois de Marco Polo Del Nero vencer a eleição para substituir José Maria Marin no comando da entidade, e ficou no cargo até 2016.
Ele, porém, nega que Del Nero —banido do futebol pela Fifa em abril deste ano, por corrupção— seja responsável por sua indicação. “A indicação foi da CBF”, diz.
O advogado é filho do expresidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Cesar Asfor Rocha, citado pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci em negociação que buscou um acordo de delação premiada.
Na ocasião, Palocci disse que Asfor seria o destinatário de propina de R$ 5 milhões paga pela Camargo Corrêa para barrar a Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal. Asfor e a construtora negam a prática de qualquer ilegalidade.
A ata que aponta Caio Rocha como acionista da BR Foot é do mesmo dia em que a Quasar Participações, que até essa data tinha capital de R$ 100, alterou seu nome para BR Foot Mídia. As mudanças foram deferidas pela Jucesp em 4 de julho.
Antes disso, no dia 18 de junho, foi feito um contrato, ao qual a Folha teve acesso, com a proposta de compra dos direitos de transmissão internacional do Brasileiro em nome da BR Foot Mídia. Ela foi endereçada aos clubes e à CBF.
A confederação diz que a documentação final, assinada pelas equipes, é de 16 de julho.
Embora o contrato esteja no nome da BR Foot Mídia, a empresa que participou do processo e venceu a licitação era outra: a BR Newmedia.
Nos registros da BR Newmedia na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (Jucerj), Rocha aparece como administrador e conselheiro de administração. A empresa virou uma sociedade anônima em 26 de abril, em meio ao processo de concorrência da CBF.
Em que pese a existência dos documentos, ele diz que não tinha nenhum envolvimento com a BR Newmedia. “Nunca atuei [pela empresa], a Patrícia [Coelho, sócia] deve ter me indicado. Já renunciei a esse cargo”, disse Rocha.
Patrícia Coelho afirmou à reportagem que não tinha o que comentar sobre o assunto. “Estou fora desse negócio”.
Apesar de a BR Newmedia ter participado do processo de concorrência e possuir um CNPJ diferente da BR Foot Mídia, a CBF não viu incoerência na licitação e entende que as empresas pertencem ao mesmo grupo.
“A proposta é a mesma, os componentes são os mesmos e o núcleo do consórcio era o mesmo. Nossa avaliação jurídica é de que é a mesma proposta”, disse o secretário-geral da CBF, Walter Feldman.
Feldman, porém, não soube dizer quem eram os investidores da BR Foot Mídia. “Não tenho de cabeça”, afirmou.
A Folha procurou a CBF para obter uma nova manifestação sobre o tema, mas a entidade disse que a BR Foot é quem deve responder.