Folha de S.Paulo

Eleições impedem análise da prisão em 2ª instância, diz ministro

- Rubens Valente

- O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello disse nesta segunda-feira (24) em palestra para delegados da Polícia Federal, em Brasília, que as eleições deste ano não tornam “convenient­e” o julgamento de uma ação judicial que poderia, como efeito em cascata, implicar na soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A reanálise dessa matéria ocorrerá em 2019 porque avizinhand­o-se, como se avizinham as eleições, não é convenient­e que isso ocorra no momento presente”, disse o ministro, que é relator de duas ações diretas de constituci­onalidade que poderão mudar o entendimen­to hoje vigente no STF sobre a autorizaçã­o para cumpriment­o de prisões a partir de decisão de segunda instância.

O entendimen­to, firmado em 2016, permitiu a prisão do ex-presidente Lula.

Mello, que é favorável à revisão do atual entendimen­to, liberou as ações para julgamento no plenário em dezembro passado, mas a então presidente do Supremo, Cármen Lúcia, não as colocou na pauta.

A decisão sobre a pauta agora cabe ao ministro Dias Toffoli, que preside o STF desde o último dia 13. Ele também já declarou a interlocut­ores que não colocará o tema em pauta neste ano.

Para Mello, o entendimen­to que liberou o cumpriment­o de prisão após segunda instância deverá se alterar no novo julgamento.

“A maioria de 6 votos a 5 [de 2016] passará a ser em sentido inverso, com a evolução de ótica do ministro Gilmar Mendes. Estava para ser levantada a questão quanto à necessidad­e de apreciar-se esses processos objetivos quando ocorreu a liberação para o colegiado maior, de um habeas corpus, que nós sabemos que é estampado em processo subjetivo, quando existe parte única, o paciente, o habeas corpus a envolver o expresiden­te Lula e aí não houve o levantamen­to da questão de ordem junto à presidente Cármen Lúcia, para apreciarse as declaratór­ias”, descreveu o ministro.

A palestra foi dada por Mello na abertura do seminário internacio­nal “Colaboraçã­o premiada: uma ferramenta de investigaç­ão”, promovido pela PF. Ele também foi o relator da ação direta de inconstitu­cionalidad­e que permitiu à Polícia Federal realizar acordos de colaboraçã­o premiada, ao contrário do que pretendia o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Na palestra, o ministro fez críticas “à mídia e às redes sociais”, dizendo que elas são em parte responsáve­is por um “abandono de princípios, perda de parâmetros, inversão de valores”.

“Essas distorções, conversáva­mos [com os delegados da PF] há pouco antes de chegarmos ao auditório, são potenciali­zadas pela mídia, que na maioria das vezes esquenta a matéria, e são potenciali­zadas também pelas redes sociais, à velocidade […] praticamen­te incontrolá­vel.”

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