Clipe reduz mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca
Quase dois milhões de americanos sofrem de insuficiência cardíaca severa. Para eles, tarefas corriqueiras podem ser extraordinariamente difíceis. Ficam sem fôlego simplesmente por atravessar uma sala ou subir um lance de escadas. Alguns precisam dormir sentados, para evitar dificuldades respiratórias.
Remédios podem ajudar a controlar os sintomas, mas o avanço da doença é inexorável e a maioria das pessoas com insuficiência cardíaca severa não sobrevive por muito tempo. Até agora, havia pouco que os médicos pudessem fazer.
Um novo estudo mostra, porém, que um pequeno clipe inserido no coração é capaz de reduzir drasticamente o índice de mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca severa.
Os resultados, divulgados em um evento médico em San Diego e publicados pelo New England Journal of Medicine, foram mais encorajadores do que os especialistas cardíacos esperavam. O aparelho ainda não é aprovado pela FDA, agência reguladora americana.
Na insuficiência cardíaca, o coração é danificado e fica flácido, muitas vezes em consequência de um ataque cardíaco. O músculo passa a bombear de maneira insuficiente e, em uma tentativa de compensar a insuficiência, o coração se expande e se deforma.
O órgão expandido arrasta a valva mitral, que controla o fluxo de sangue do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo. A valva distorcida funciona mal, e suas válvulas se separam [a estrutura formada pelo conjunto de válvulas recebe o nome de valva]. O sangue que deveria ser bombeado para o corpo retorna ao coração e pulmões.
Isso causa um círculo vicioso. O coração se expande, e com isso há vazamento. A valva mitral defeituosa causa expansão ainda maior do coração, que busca compensar a falha, e a insuficiência cardíaca se agrava.
O dispositivo MitraClip, produzido pela Abbott, que bancou os estudos, foi usado para reparar a valva mitral, unindo as duas válvulas em posição centralizada.
Até agora, os pesquisadores não estavam seguros de que reparar a valva mitral ajudaria os pacientes. Um estudo semelhante na França, com pacientes em situação parecida, não identificou benefícios no uso do MitraClip.
No novo teste, 614 pacientes com insuficiência cardíaca severa, dos Estados Unidos e Canadá, foram selecionados aleatoriamente para receber um MitraClip e tratamento médico convencional (302) ou continuar apenas com o tratamento convencional (312).
Entre as pessoas que receberam apenas o tratamento convencional, 151 foram hospitalizadas por insuficiência cardíaca nos dois anos posteriores ao início do tratamento. Sessenta e um morreram.
Em contraste, apenas 92 dos pacientes que receberam o aparelho foram hospitalizados por insuficiência cardíaca, e 28 deles morreram.
O aparelho custa US$ 30 mil (R$ 123 mil), sem contar custos hospitalares e honorários médicos: o procedimento requer cirurgião, cardiologista intervencionista e ecocardiologista, além de outros profissionais de sala de cirurgia.