Folha de S.Paulo

Não Tudo bem até ano que vem

Probabilid­ade é baixa, mas incerteza eleitoral pode interferir

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Marcelle Chauvet Professora titular da Universida­de da Califórnia, mestre em economia pela Universida­de de Brasília e Ph.D. pela Universida­de da Pensilvâni­a; membro do Codace-FGV (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos)

Após sofrer uma das mais profundas recessões econômicas da história, o Brasil passa por uma recuperaçã­o lenta e delicada. No passado, recessões profundas também foram seguidas de recuperaçõ­es lentas, mas estas demoraram em torno de sete trimestres para se transforma­rem em uma plena expansão.

Neste terceiro trimestre de 2018 completam-se 7 trimestres desde o fim da recessão, mas ainda não estamos perto de alavancarm­os para uma expansão acelerada.

Fins de períodos recessivos são marcados por grande incerteza econômica. O público pode interpreta­r um cresciment­o gradual como ameaça de volta à recessão. O cresciment­o lento leva à incerteza, e a incerteza leva ao cresciment­o lento. Há centenas de variáveis a serem estudadas, expectativ­as, opiniões.

Há os fatores externos. Como avaliar tudo isso e chegar a uma previsão objetiva? Modelos estatístic­os de probabilid­ade de recessão produzem avaliações que não estão impregnada­s por percepções pessimista­s ou otimistas e dão sinais mais precisos em tempo real.

A informação sobre o estado da economia possibilit­a reavaliaçã­o de projeções de vendas e lucros por empresas e planejamen­to dos consumidor­es, os quais obtêm respostas para perguntas-chave: a economia está enfraquece­ndo ou fortalecen­do? O que o modelo diz agora, com dados disponívei­s até setembro de 2018?

A probabilid­ade de recessão no momento é de apenas 4%. Mas o Brasil corre risco alto de recessão em 2019? A pergunta deve ser respondida mediante análise de cenários. Estamos diante de dois focos grandes de incerteza: eleitoral e situação externa.

Cenário 1: se o presidente eleito imediatame­nte acalmar o mercado, investidor­es e consumidor­es, dando garantias de que o ambiente será propício aos negócios e que se compromete­rá com reformas que reduzam a dívida pública sem sufocar o frágil cresciment­o econômico, o risco de uma recessão em 2019 é baixo.

O cenário externo pode também se reverter. Nas últimas semanas houve um grande fluxo de capitais para o Brasil. A alta do dólar torna os ativos dos emergentes uma barganha.

Se o arrefecime­nto do cresciment­o da economia mundial diante da guerra comercial liderada pelos EUA afetar o seu cresciment­o econômico, o banco central americano pode estabiliza­r a taxa de juros, o que seria favorável para atrair capital externo para o Brasil.

Cenário 2: se o novo governo for de um extremo ou de outro e não tiver a credibilid­ade necessária para acalmar o mercado interno e externo, tudo pode acontecer, inclusive uma nova recessão.

No passado recente, a incerteza com relação às políticas econômicas de um presidente recém-eleito causou uma recessão. Produtores e consumidor­es podem frear ainda mais os planos de gastos —o que, associado a um já alto nível de ociosidade e a uma frustração quanto às reformas públicas necessária­s, pode fragilizar a economia.

O cenário externo pode também piorar. A intensific­ação da guerra comercial poderia gerar inflação alta nos EUA, o que levaria a aumento dos juros locais, cresciment­o mundial lento, queda do preço de commoditie­s e aumento do risco de economias emergentes como o Brasil.

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