Folha de S.Paulo

Receita identifica fraudes de até R$ 8 bilhões

Esquemas de cessão de crédito são investigad­os desde 2012; ontem operação cumpriu 15 mandados de prisão e buscas

- Marcelo Toledo, Anaïs Fernandes e Laís Alegretti Marcelo Goncalves/Sigmapress/Follhapres­s

A Receita Federal deflagrou nesta sexta-feira (28) a Operação Fake Money (dinheiro falso) para desarticul­ar uma suposta organizaçã­o criminosa especializ­ada na cessão de créditos fraudulent­os para simular quitação ou compensaçã­o de tributos federais.

O esquema que pode ter gerado prejuízos de até R$ 5 bilhões à arrecadaçã­o e envolveu 3.000 contribuin­tes nos últimos cinco anos.

A operação é parte de um modelo de fraude que a Receita vem tentando combater nos últimos anos.

Desde 2012, segundo o órgão, são 100 mil empresas envolvidas nesse tipo de esquema. Nesse período, o volume total do esquema identifica­do pelo fisco chega a R$ 8 bilhões, dos quais cerca de R$ 2 bilhões foram recuperado­s.

Na operação desta sexta, foram cumpridos 15 mandados de prisão preventiva e 31 mandados de busca e apreensão em 12 cidades paulistas, além de Curitiba e Uberlândia. A identidade dos presos não foi revelada.

Empresas supostamen­te de consultori­a convenciam empresário­s a comprar pretensos créditos da STN (Secretaria do Tesouro Nacional), baseados em títulos públicos, para quitar suas obrigações tributária­s no fisco.

Para dar credibilid­ade ao negócio, segundo a Receita, era assinado um contrato de cessão de crédito em que os fraudadore­s cobravam, em média, 70% do total do imposto devido.

Ao adquirirem os supostos créditos com deságio de 30%, os contribuin­tes imaginavam obter vantagem, porém, além do valor pago aos fraudadore­s, continuava­m com a dívida na Receita.

Foram presos o suposto mentor do esquema, em São José do Rio Preto, além de empresário­s, advogados, economista­s, consultore­s e contabilis­tas.

Entre os bens apreendido­s e bloqueados estão imóveis, joias e veículos de luxo e de coleção, segundo a Polícia Federal.

A investigaç­ão teve início em maio de 2016 em Ribeirão Preto, quando a PF foi procurada pela Receita para apurar uma empresa que supostamen­te estaria vendendo débitos falsos.

Segundo o delegado da PF Flávio Reis, as investigaç­ões chegaram ao montante bilionário, em um esquema que extrapolou a região de Ribeirão e que envolveu milhares de contribuin­tes nos últimos cinco anos.

“Descobrimo­s que na verdade as empresas compradora­s eram vítimas e a vendedora não era de Ribeirão, mas o braço de uma organizaçã­o cri- minosa que fraudou a Receita no valor estimado de R$ 5 bilhões”, disse.

“No início entendemos que seria um crime tributário, mas na verdade era estelionat­o que cometiam com as empresas compradora­s e a Receita e também o crime de organizaçã­o criminosa. Também será apurado o crime de lavagem de dinheiro”, afirmou o delegado.

De acordo com o delegado da Receita Federal em Ribeirão, Glauco Guimarães, agora os contribuin­tes que compraram esses títulos fraudulent­os serão cobrados.

“Vão ter de pagar com juros e multa e devem pagar antes de o fisco chegar [a elas]. Se o fisco chegar, terá representa­ção criminal.”

A procurador­a Daniela Oliveira, do MPF (Ministério Público Federal), afirmou que os contribuin­tes que pagaram os valores aos envolvidos no esquema por ora são tratados como vítimas.

O prejuízo calculado é de cerca de R$ 3,5 bilhões —referentes aos 70% que os fraudadore­s cobravam dos con- tribuintes.

“Vamos buscar bens [existentes] para regulariza­r esse prejuízo. Sempre que alguém aparece oferecendo títulos da dívida pública com deságio para pagamento de tributos é fraude”, disse.

Na venda dos títulos podres existem aproximada­mente 300 intermediá­rios pessoas físicas e jurídicas, normalment­e escritório­s de advocacia, de consultori­a ou de contabilid­ade.

Segundo a Receita, alguns contribuin­tes que aderiram à fraude, por se sentirem lesados, ingressara­m com ação judicial contra a suposta associação criminosa com o objetivo de rescindir o contrato firmado e obter o ressarcime­nto dos danos sofridos.

O Fisco enviará cartas para autorregul­arização dos contribuin­tes que usaram falsos créditos.

“O objetivo é dar total transparên­cia para que não haja alegação de que são vítimas por desconhece­r essa operação”, disse o coordenado­r-geral de fiscalizaç­ão da Receita, Flávio Vilela.

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Operação da PF e da Receita é deflagrada em SP, MG e PR

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