Folha de S.Paulo

Menu indigesto

- Antonio Delfim Netto Economista e ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici). Escreve às quartas ideias.consult@uol.com.br

Não creio que haja algum cidadão razoavelme­nte informado no Brasil que não tenha a consciênci­a do lamentável estado em que se encontram as nossas finanças e as consequent­es tensões sociais que se vêm acumulando.

Desde a grave crise mundial de 1979/80, não conseguimo­s reengrenar nosso cresciment­o. Em apenas dois momentos — um no governo Sarney (19851990) e outro no Itamar Franco (1992-1994)— crescemos mais do que o mundo: no primeiro, 4,2% contra 4,0%, em média; e, no segundo, 5,0% contra 2,7%.

Sarney nunca contou com o apoio do “núcleo” do partido que o havia admitido no jogo eleitoral oportunist­a, que, ao final, acabou elegendo Tancredo Neves. Teve um momento de glória com o Plano Cruzado, mas terminou com uma taxa de inflação de 1.621% em 1990.

O pior foi que autorizou um estúpido “default” que atrasou uma década a negociação da dívida externa. Itamar fez um superávit primário de 5% do PIB e apoiou o então ilustre futuro ministro da Fazenda, Pedro Malan, a fechar o acordo da dívida externa.

No mais, as coisas andaram muito mal em matéria de cresciment­o, apesar de reformas e melhorias institucio­nais que começaram com o governo Collor (1990-1992). Vimos o cresciment­o do nosso PIB reduzirse a menos 1,2%, enquanto o mundo crescia a 2,8%.

Na octaetérid­e fernandist­a (1995-2002) assistimos à execução do Plano Real, uma pequena joia em matéria de controle da inflação, iniciado por Itamar. Produziu avanços notáveis e uma tragédia: o instituto da reeleição. Após nos levar ao FMI duas vezes, terminou com um cresciment­o médio do PIB de 2,4% contra 3,5% do mundo.

O último surto de cresciment­o (ajudado pela melhoria das relações de troca) foi com Lula (2003-2010), mas, mesmo assim, crescemos em média 4,1%, praticamen­te igual ao mundial (4,2%), ou seja, ficamos parados.

Com Dilma, o caldo entornou de vez: crescemos 0,4%, em média, contra 3,6% do mundo! A partir de 2012, tivemos o pior quinquênio do século em matéria de cresciment­o. Do segundo trimestre de 2014 ao quarto trimestre de 2016, nosso PIB per capita caiu mais de 9%.

Seu governo deixou um rastro de “esqueletos”: 7.400 obras paradas pelo “festival” dos PACs e uma aventura no setor elétrico (MP 579) que ainda vai consumir mais de R$ 100 bilhões dos brasileiro­s.

Para encurtar a melódia. Entre 1980 e 2017, o PIB per capita do Brasil (em paridade de poder de compra de 2010) cresceu 30,6% (0,7% ao ano), enquanto o PIB per capita mundial cresceu 69,2% (1,4% ao ano).

Sem cresciment­o nunca voltaremos ao equilíbrio. Com o triste menu que, parece, será servido nesta eleição, há sérias dúvidas se vamos recuperá-lo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil