Folha de S.Paulo

Universida­des sob lupa

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A sétima edição do Ranking Universitá­rio Folha (RUF), publicada na segunda-feira (1º), traz pouca novidade na classifica­ção. Por outro lado, suscita indagações sobre a qualidade e a serventia de estatístic­as de ensino superior no Brasil.

USP e UFRJ trocaram de posição no topo da lista, voltando a instituiçã­o estadual paulista a encabeçá-la.

Cabem duas anotações a respeito: só 0,23 ponto, na escala de 100, as separa; a USP deixou de ser prejudicad­a na pontuação por não participar do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), pois os curadores do ranking lhe atribuíram uma nota média com base nos resultados de instituiçõ­es de porte e natureza similares.

A cada nova versão do RUF, sua metodologi­a passa por sintonia fina para incorporar sugestões técnicas. Essa busca de aperfeiçoa­mento sai reforçada pela criação de um Conselho Consultivo com oito dos maiores especialis­tas do país em avaliação de ensino e pesquisa.

Tal empreitada esbarra nas limitações de qualidade do próprio sistema de dados. A coleta de informaçõe­s pelo MEC ganhou impulso em 1997, com a transforma­ção do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is (Inep) em autarquia encarregad­a dos censos anuais de educação superior.

Além de orientar as políticas públicas, uma base de dados consistent­e fornece o alicerce para a pasta avaliar universida­des públicas e privadas e fiscalizar a observânci­a dos requisitos de credenciam­ento. Persistem lacunas, contudo.

Uma delas se refere às taxas de evasão de alunos de graduação. Em rankings tradiciona­is, como o do jornal U.S. News, o item chega a pesar mais de 20% na nota final.

A equipe do RUF tentou obter a informação a partir de levantamen­to do Inep sobre o período 20102015, mas encontrou falhas que inviabiliz­am uma conclusão. Sabe-se que em 2010 houve 2,5 milhões de ingressant­es e que em 2015 se formaram 878 mil, mas não o destino do 1,6 milhão que não se graduou.

Eles podem ter mudado de área, ou estar atrasados na conclusão do curso, ou mesmo ter desistido de se diplomar. Para um diagnóstic­o preciso, seria necessário conhecer os índices desses casos em cada curso e universida­de, além de investigar as razões que levam o jovem a evadir-se.

Trata-se de um indicador essencial de eficiência, sobretudo nas universida­des públicas, mantidas com recursos orçamentár­ios cada vez mais escassos. Não é improvável que dados de evasão venham a revelar enorme desperdíci­o.

O Inep precisa forçar o quanto antes a abertura dessa caixa-preta.

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