Folha de S.Paulo

A urgência da reforma política

Ponto inicial é reequilíbr­io das bancadas dos estados na Câmara

- Mario Covas Neto Advogado, reeleito vereador de São Paulo em 2016 e candidato ao Senado pelo Podemos

O maior entrave para o pleno funcioname­nto do Congresso Nacional está nas imperfeiçõ­es causadas por vícios e casuísmos criados ao longo dos anos. Isso fez do Legislativ­o federal um Poder distorcido, perdulário e pouco produtivo. É urgente que o país discuta a reforma política para dar qualidade e eficiência à representa­ção popular.

O ponto inicial dessa reforma deve ser o reequilíbr­io das bancadas dos estados na Câmara Federal. Devido a manobras políticas de décadas atrás, com o objetivo de se garantir maiorias, não temos o respeito à máxima de “um eleitor, um voto”.

Rompendo com um dos princípios básicos da democracia, estabelece­ram-se estados sub-representa­dos, o que prevalece até hoje.

A correção desse problema pode ser adotada em uma discussão mais ampla que inclua o voto distrital para a Câmara. Nesse sistema, cidades e estados são divididos em distritos. A primeira metade dos votos representa­rá o desempenho dos candidatos, enquanto a segunda, a dos partidos.

É uma forma mais equilibrad­a de votação em que prevalece a representa­ção regional e que deveria servir também às Câmaras de Vereadores e Assembleia­s Legislativ­as. Já temos projetos nesse sentido em tramitação. Precisamos aperfeiçoá-los e acelerar as votações.

Outra proposta importante na discussão da reforma política é a redução do número de parlamenta­res. Os estados podem ser muito bem representa­dos com dois senadores cada. Reduziríam­os em um terço a estrutura do Senado. Isso, junto com voto distrital na Câmara, tendo como premissas o reequilíbr­io do coeficient­e eleitoral dos estados e a racionaliz­ação no número de cadeiras, poderia gerar uma economia de cerca de R$ 1,5 bilhão por ano.

Esses avanços certamente poderão trazer outro grande benefício. É o melhor caminho para se tentar pôr fim ao mercado que se estabelece­u nas Casas legislativ­as.

Com Senado e Câmara inchados, testemunha­mos frequentes festivais de troca de favores, verbas e benesses para que matérias da mais alta importânci­a para a sociedade consigam avançar. Cenas que desmoraliz­am a classe política e ferem mortalment­e a confiança do cidadão em seus representa­ntes.

Também é importante discutir o calendário eleitoral. Eleições a cada dois anos produzem custo elevado demais para o país. Todos perdem muito tempo e dinheiro com isso. É mais prático e econômico escolher nossos representa­ntes —das Câmaras de Vereadores à Presidênci­a da República— em único pleito a cada quatro anos.

Claro que são propostas que devem enfrentar feroz resistênci­a. É muito difícil convencer alguns a cortar na própria carne e reduzir as benesses das quais desfrutam.

Nessas situações, sempre gosto de citar o exemplo de Mario Covas, que agia com princípios rígidos e tinha a coragem de propor e lutar pelas mudanças. Acompanhei como filho sua persistênc­ia diante daqueles que resistiam por interesses ou simples acomodação.

É em momentos cruciais e decisivos para o país, como o que enfrentamo­s hoje, que devemos buscar os bons exemplos de lideranças históricas e conseguir inspiração e força necessária­s para lutar pelos avanços. O tempo passa, e os problemas do país se agravam. Não podemos adiar as mudanças.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil