Doria endurece e se ‘bolsonariza’ na reta final para o 1º turno
Tucano em SP fala em polícia ‘atirar para matar’ e até gravou vídeo ao lado de eleitor de presidenciável do PSL
são paulo “A vocês, bandidos, facínoras e dirigentes de facções criminosas que possam estar nos assistindo, não façam enfrentamento com a Polícia Militar ou Civil, porque a partir de janeiro ou se rendem ou vão para o chão”, disse o candidato ao governo paulista João Doria (PSDB) à Rádio Bandeirantes.
O âncora ainda perguntou: “Que que é isso, vão para o chão, hein, candidato?”. “É para o chão mesmo, exatamente isso que você entendeu”, respondeu Doria, para logo depois anunciar que a polícia atiraria para matar nos confrontos em sua eventual gestão.
Com Geraldo Alckmin (PSDB) estagnado na corrida presidencial, Doria subiu o tom e se “bolsonarizou” na reta final antes do primeiro turno. O objetivo é surfar na onda de Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas para o Planalto.
Em vídeo obtido pela Folha, um simpatizante de Bolsonaro em Franca (SP) pede uma dobradinha com Doria. Ao ouvir a mensagem, o tucano abraça o simpatizante, que se apresenta como Max, e engrossa o coro. “É Doria”, diz o candidato. “Vamos apoiar o Doria aqui no Estado de São Paulo. Beleza, galera do Bolsonaro? Vamos unir, somar e eleger esse cara”, diz o homem. E Doria completa: “Acelera”.
A campanha do PSDB diz que as imagens foram gravadas há alguns dias e que Doria procurou ser educado com o simpatizante, mas apoia Alckmin.
Procurado pela Folha, Doria pediu que sua assessoria encaminhasse novo vídeo. Em 30 segundos de gravação, ele rechaça apoio ao PT em eventual segundo turno para presidente. Mas não cita Alckmin.
“Acabei de ler uma notícia nas redes sociais de que apoiaria Fernando Haddad (PT) no segundo turno. Não há a menor hipótese. Chega de PT.”
O vídeo também foi postado nas redes sociais do tucano e apareceu em grupos de WhatsApp de bolsonaristas. Alguns aventam a ideia de que ele pode vir a ser o Bolsonaro estadual, mas outros mantêm reservas quanto ao PSDB.
Nesta semana, Doria afirmou que “não há mais o voto vinculado, de cima a baixo, necessariamente o mesmo partido”, outro aceno ao chamado voto “bolsodoria”.
“A estratégia está sendo um giro à direita para trazer o máximo possível de votos bolsonaristas que têm predominado e crescido. Especialmente, no interior”, diz a cientista política Maria do Socorro Braga, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
A polícia paulista segue o método Giraldi, que prevê o uso progressivo da força, tendo a morte do criminoso como consequência do último recurso.
Questionado em relação à frase de Doria e à forma correta de os policiais agirem, o criador do método, coronel da PM Nilson Giraldi, disse por email que a finalidade é “ensinar o policial a usar sua arma de fogo, de forma correta, e dentro dos limites da lei”, para que volte para casa íntegro, “e não para o necrotério, para uma cadeira de rodas, ou para a prisão”.
Para o ouvidor das polícias na gestão Alckmin, Julio Cesar Neves, Doria faz apologia ao crime. “Vai estimular aquele que atira e depois pergunta, o mau policial”, diz ele, membro da comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.