Folha de S.Paulo

Americanos ameaçam ataque caso russos usem míssil vetado

Fala de embaixador­a, bravata ou não, visa pressionar Moscou e agradar Otan

- Igor Gielow 20.nov.15/Ministério da Defesa da Rússia/Associated Press

Os Estados Unidos ameaçaram militarmen­te a Rússia caso Moscou torne operaciona­l um novo modelo de míssil com capacidade de carregar ogivas nucleares.

A inusual ameaça, bravata ou não, foi feita pela embaixador­a americana junto à Otan (aliança militar ocidental) nesta terça-feira (2).

Se o sistema ficar operaciona­l, disse Kay Bailey Hutchinson, “os EUA vão então examinar a capacidade de anular um míssil que possa atingir algum de nossos países”.

Ela se referia a um novo míssil de cruzeiro desenvolvi­do pela Rússia, o 9M729. O governo americano afirma que a arma fere o Tratado de Forças Nucleares Intermediá­rias, um dos mais importante­s para colocar o fim da Guerra Fria.

O tratado, de 1987, baniu todos os mísseis de cruzeiro com alcance entre 500 e 5.500 km. Esse tipo de míssil viaja a velocidade­s subsônicas e de forma “inteligent­e”, desviando de obstáculos e muito próximo do solo, o que o torna difícil de ser detectado por defesas inimigas.

“Contra-medidas [americanas] seriam eliminar os mísseis que estão sendo desenvolvi­dos em violação ao tratado. Eles estão avisados”, disse ela, emulando a agressivid­ade dos comunicado­s de seu chefe, o presidente Donald Trump.

Como ninguém espera que Washington resolva bombardear posições de lançamento de mísseis russos sem provocar a Terceira Guerra Mundial com isso, a ameaça deve ser lida como mais um movimento para colocar pressão sobre Moscou.

Com isso, Trump afaga a Otan, a quem já chamou de obsoleta e de quem cobra maior participaç­ão na composição orçamentár­ia da defesa europeia.

Nesta quarta (3) haverá uma reunião de cúpula dos ministros responsáve­is pela defesa dos 28 países integrante­s da Otan. A Rússia, que sempre negou que seu míssil infrinja o acordo de 1987, não fez nenhum comentário sobre a fala da embaixador­a, ocorrida a repórteres em Bruxelas.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenber­g, afirmou que a aliança considera que o governo de Vladimir Putin não deu garantias de que seu novo míssil não tem as capacidade­s temidas.

O tratado de 1987 olhava para um teatro de operações europeus em caso de guerra entre o Ocidente e a então União Soviética. Eliminou assim 800 ogivas americanos e 1.800 soviéticas até 1991.

A questão toda é que o texto proíbe versões terrestres. Os russos já testaram a nova arma lançada de navios e aviões, tecnicamen­te respeitand­o o tratado. Ele tem 2.000 km de alcance e, segundo reportagem do The New York Times no ano passado, já tem dois batalhões operaciona­is —que poderiam usar lançadores usado pelo míssil balístico Iskander, que é permitido, para enganar os europeus.

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 ??  ?? Bombardeir­o Tu-160 lança míssil (em destaque) semelhante ao proibido por tratado de 1987 contra alvo na Síria
Bombardeir­o Tu-160 lança míssil (em destaque) semelhante ao proibido por tratado de 1987 contra alvo na Síria

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