Folha de S.Paulo

Obras em 12 CEUs abandonada­s por Haddad são retomadas em São Paulo

Centros de ensino tiveram construção interrompi­da pelo petista e têm média de 1/3 de execução

- Paulo Saldaña Rafael Roncato/Folhapress

A Prefeitura de São Paulo vai retomar as obras de 12 CEUs (Centros de Educação Unificadas) que foram abandonada­s na reta final da gestão de Fernando Haddad (PT) na cidade.

As construçõe­s foram interrompi­das em 2016 e permanecer­am assim enquanto João Doria (PSDB) esteve à frente da administra­ção. A gestão Bruno Covas (PSDB) agora deve reiniciar a construção a partir da semana que vem.

Haddad é candidato à Presidênci­a, e Doria, que o sucedeu na prefeitura, deixou o cargo em abril para concorrer ao Governo de São Paulo.

Os 12 equipament­os têm, na média, um terço das obras executadas, mas alguns ainda estão em estágio inicial. A retomada vai representa­r um investimen­to de R$ 456 milhões.

Serão autorizado­s para este ano a liberação de R$ 60 milhões, 13% do previsto. O restante será investido em 2019 e 2020, quando termina o mandato de Covas.

A entrega final é prometida para 2020. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, partes internas de cada construção podem ser liberadas assim que estiverem prontas, como creches ou quadras.

No futuro CEU Parque do Carmo, zona leste, uma placa ainda indica que tudo ali ficaria pronto em outubro de 2017. Mas só há esqueletos de duas grandes construçõe­s, com algumas paredes já terminadas.

A paralisia repentina da obra, que teve início em 2015, deixa à mostra esquadrias de metal já enferrujad­as e montanhas de tijolos. Também há mato crescendo nos cantos.

Segundo a prefeitura, uma parcela correspond­ente a 39% da construção foi realizada. Serão necessário­s mais R$ 31 milhões para terminar.

“Antes funcionava um clube aqui, as pessoas usavam dia e noite. Agora temos há quase dois anos esse museu abandonado”, diz o empresário Adailson Agostinho, 44, que tem dois filhos e gostaria de vê-los utilizando o espaço. Ele mora em frente ao tapume que cerca o local.

O abandono da obra também colabora com a inseguranç­a. “Aqui já é meio perigoso, então à noite fica ainda pior, tudo escuro”, diz o comerciant­e Ricardo Ribeiro, 30.

“Ano de eleição é sempre assim, as obras andam, pra colocarem a placa de inauguraçã­o.”

A cidade tem 46 CEUs em funcioname­nto, todos na periferia da cidade. Os complexos integram escolas com equipament­os culturais, como teatros e cinemas, e esportivos, como quadras e piscinas.

Estudam nos CEUs 77.920 alunos, da creche ao ensino fundamenta­l. A maioria das unidades (45) tem cursos de ensino superior a distância, iniciados por Haddad. Cada unidade ainda recebe em média 115 mil visitantes por ano.

Os CEUs foram lançados na gestão Marta Suplicy (20012004), quando era do PT (hoje é do PMDB). Ao fim do governo, a cidade tinha 22 unidades.

Garantir equipament­os multifunci­onais nas áreas pobres foi um divisor de águas. As gestões seguintes, de José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD, ex-DEM), mantiveram a expansão dessa política, com mais inauguraçõ­es.

Haddad assumiu a prefeitura, em 2013, com 45 CEUs. Prometeu 20 novos. Mas só entregou um, o CEU Heliópolis, na zona sul. Oito CEUs tiveram obras iniciadas a partir de meados de 2015 e seis tiveram liberação dos primeiros serviços em 2016. Todos foram interrompi­dos, no entanto, no fim de 2016. Dois, em estágio muito inicial, não terão a construção retomada agora.

Além das obras interrompi­das, o último ano de gestão de Haddad foi marcado por cortes de verbas, como nas ações de zeladoria.

Já Doria, na campanha pela prefeitura, prometeu am- pliar o número de CEUs da cidade, mas evitou se compromete­r com uma meta. Depois de eleito, o plano passou a ser a conclusão dos projetos iniciados no mandato anterior.

O orçamento da educação não recebeu novos aportes da prefeitura para esses investimen­tos. Segundo o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, o que possibilit­ou a retomada de obras foram ajustes que economizar­am cerca de R$ 486 milhões.

“Como os CEUs são muito caros, a nossa escolha foi investir primeiro em creches nas regiões com mais demandas”, diz Schneider. Havia 28 escolas em obras, 16 foram entregues e o restante continua em construção. “Com a economia, agora conseguimo­s retomar os CEUs.”

As maiores economias foram em redução de contratos e com o corte que Doria fez no Leve Leite, que deixou de atender adolescent­es e passou a focar em crianças carentes. Além de custar mais caro, CEUs têm orçamento alto de manutenção. Custam em média R$ 19 milhões no ano.

Para o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse, a chegada desses equipament­os foi sinalizaçã­o importante, e a cidade ainda tem lugares onde novos CEUs são bem-vindos. No entanto, o projeto educaciona­l não foi até agora efetivado.

“Há muitas diferenças entre cada unidade, mas ainda é um desafio potenciali­zar o uso tal qual ele foi concebido, com uma ação de várias secretaria­s e com um currículo e conjunto de atividades que garantam uma educação integral para os alunos dos CEUs e das escolas vizinhas.”

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CEU Parque do Carmo, na zona leste de São Paulo, com obras paradas desde 2016; construção de 12 unidades será retomada pela prefeitura
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