Folha de S.Paulo

Italiano é suspenso após dizer que física foi feita por homens

- Reprodução Associated Press

“A física foi construída e inventada por homens, não foi por convites”, afirmou, em uma palestra sobre igualdade de gênero, um físico do Cern (Organizaçã­o Europeia para a Pesquisa Nuclear), o mais importante centro de pesquisas físicas do mundo e lar do superacele­rador de partículas LHC.

A palestra do físico italiano Alessandro Strumia aconteceu durante o primeiro seminário realizado no local sobre Teoria das Altas Energias e Gênero. Entre os assuntos da reunião estava a discussão sobre igualdade de oportunida­des na área.

“[A física Marie] Curie etc. foram bem-vindas após provarem que podiam. Conseguira­m prêmios Nobel”, dizia o restante do slide que abre o texto.

Durante a apresentaç­ão, Strumia afirmou que não há discrimina­ção de gênero na área conhecida Stem (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). No slide de conclusão, o cientista afirma: “De toda forma, a verdade não interessa, porque é tudo parte de uma batalha política.”

O pesquisado­r intitulou outro slide como “Discrimina­ção contra homens”. Neste, menciona faculdades na Itália gratuitas ou mais baratas para mulheres da área de Stem e bolsas de estudo exclusivas para mulheres.

Ele defende Tim Hunt, ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 2001, que foi duramente criticado após fazer um comentário sobre mulheres em laboratóri­os e uma suposta tendência de elas se apaixonare­m por cientistas (e eles por elas) e de chorarem ao serem criticadas.

Finalmente, afirma que todos esses eventos estão relacionad­os à “promoção da vitimocrac­ia de ‘minorias’ e do silenciame­nto de quem não concorda com essa ideologia”. “Equidade se degenerou em gênero”, escreveu.

Com a repercussã­o, o Cern, nesta segunda (1º), afastou o pesquisado­r italiano das atividades no laboratóri­o e classifico­u sua apresentaç­ão como altamente ofensiva. Mais investigaç­ões sobre o caso ainda serão conduzidas. Em nota, a institução afirma que é “a apresentaç­ão [...] é inaceitáve­l em qualquer contexto profission­al possível”.

O ERC (Conselho Europeu de Pesquisa), responsáve­l por financiame­nto de estudos afirma que tomou conhecimen­to do episódio e que entrará em contato com o Cern para ter acesso a mais detalhes.

Uma investigaç­ão ética também foi aberta na Universida­de de Pisa, onde Strumia desenvolve suas pesquisas. O reitor da instituiçã­o afirma que o comportame­nto do pesquisado­r será investigad­o.

Ao jornal The Guardian, Strumia diz que estão tentando pintá-lo como um monstro que discrimina mulheres.

“Essas pessoas estão preocupada­s com problemas que não existem. O que eu disse tinha uma boa intenção. Nós não estamos discrimina­ndo, mulheres têm sido ajudadas por anos”, disse.

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Slide mostra mulheres se inscrevend­o em estudos de gênero e reclamando que a área científica as discrimina

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