Folha de S.Paulo

Marcelo Araujo critica mudança na chefia de museus federais ao assumir a Japan House

- João Perassolo

“Não teve meu endosso.” Marcelo Araujo, o expresiden­te do Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram, criticou mudanças feitas às pressas pelo atual governo na gestão dos museus federais.

Em entrevista na sede da Japan House, em São Paulo, instituiçã­o da qual ele se tornou presidente nesta segunda-feira (1º), um mês depois de pedir sua exoneração do Ibram, Araujo afirmou que não fez nenhuma contribuiç­ão para a criação da Agência Brasileira de Museus, a Abram.

O novo órgão, criado por medida provisória oito dias depois do incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, leva a esse tipo de instituiçã­o em todo o país um modelo de gestão parecido com o da esfera privada.

“Não fui consultado com relação a essa proposta, e quando fui informado já manifestei minha posição: uma série de questionam­entos em relação não ao mérito da Abram, mas principalm­ente em relação ao momento e à adequação da proposta para esse momento”, disse o museólogo.

Araujo lembrou que foi informado sobre a nova agência em reunião no Palácio do Planalto em 6 de setembro, cerca de um mês depois de ele ter comunicado ao Ministério da Cultura que sairia do governo para assumir a Japan House.

“Acho o momento inadequado para essa proposta, por um procedimen­to também não adequado, que é por medida provisória. Os eventuais méritos que a proposta da Abram possa ter acabam ficando comprometi­dos”.

Por méritos, ele se refere a “modelos alternativ­os de gestão” para museus —um dos princípios da Abram. Diz ainda que esse debate “tem que ser feito com cuidado, envolvendo todas as partes interessad­as, as instituiçõ­es, e em um momento político com mais serenidade e tempo para a maturação da discussão”.

A nova agência herda os 30 museus filiados ao Ibram, incluindo o Museu Nacional de Belas Artes. A Abram tem natureza jurídica privada e vai funcionar com dinheiro do Sebrae, ao contrário do Ibram, uma autarquia ligada ao Minisitéri­o da Cultura mantida por verbas públicas.

Araujo, que já dirigiu a Pinacoteca e tem longa carreira no setor público, agora assume uma instituiçã­o privada.

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