Folha de S.Paulo

Governo planeja elevar pagamento a térmicas e repassar alta à conta de luz

A ideia é viabilizar a operação de três usinas para preservar reservatór­ios, segundo ministério

- Taís Hirata

O governo federal planeja aumentar a remuneraçã­o de três usinas térmicas movidas a gás natural, para viabilizar seu acionament­o. A medida deverá elevar a conta de luz dos consumidor­es.

Uma consulta pública sobre o tema foi aberta nesta terçafeira (2) e vai se estender por cinco dias, até o dia 6 de outubro, véspera do primeiro turno das eleições.

As usinas térmicas são acionadas quando os reservatór­ios estão baixos e é preciso compensar a queda na geração hidrelétri­ca.

Esse acionament­o é o principal responsáve­l pelo aumento no preço da energia, mas ajuda a preservar os reservatór­ios de água em tempos de secas prolongada­s.

A proposta do governo apresentad­a nesta terça é direcionad­a a três usinas: a térmica de Uruguaiana, da AES; a térmica de Araucária, da Copel (Companhia Paranaense de Energia); e a térmica de Cuiabá, controlada pela Âmbar, do grupo J&F.

Esta última foi o centro do escândalo envolvendo Joesley Batista, que teria oferecido propina para que a Petrobras liberasse o gás natural à usina, segundo a delação premiada do empresário.

Hoje, essas três usinas estão sem contrato de abastecime­nto de gás natural. A ideia do governo é dar condições para que elas possam ser novamente acionadas.

Para isso, seria elevada a remuneraçã­o, em caráter excepciona­l, até 30 de abril de 2019.

O pagamento, que normalment­e remunera apenas os custos variáveis da usina (que são pagos de acordo com a energia gerada), passaria a incluir também os custos fixos do empreendim­ento.

Além disso, elas ficariam isentas de penalidade caso haja falhas no suprimento de combustíve­l (gás natural).

As empresas também ganhariam prioridade na fila de pagamento nas operações do mercado de curto prazo —que atualmente está travado por uma briga judicial, que tem levado a uma alta inadimplên­cia e a uma disputa para receber os pagamentos.

Segundo a nota técnica publicada pelo ministério, essas térmicas poderiam “apresentar custos competitiv­os (...), quando comparadas ao parque térmico operaciona­lmente disponível e também às usinas termelétri­cas que vêm sendo despachada­s”.

No entanto, analistas ouvidos pela Folha preveem que a medida trará um aumento na conta de luz.

Esse impacto será de 0,15% até abril de 2019, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que não deu mais detalhes sobre o cálculo.

O governo também argumenta que a medida é necessária para dar segurança energética ao país, por causa do nível baixo dos reservatór­ios.

Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a situação hídrica do país até o fim deste ano atingirá um patamar mais baixo do que o nível de 2014, quando ocorreu o pior armazename­nto em novembro nos últimos 20 anos.

Na segunda-feira (1º), o governo já havia proposto retomar uma outra termelétri­ca, em Fortaleza, operada pela italiana Enel.

A ideia é que a usina seja acionada por 90 dias com um preço adicional, que deverá ser repassado aos consumidor­es.

Para Claudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil, a retomada da usina de Fortaleza faz sentido, pois a outra opção seria acionar usinas ainda mais caras.

Ele ainda não fez cálculos para as outras três usinas que o governo pretende retomar.

Outro analista consultado afirma que a medida soluciona o problema das companhias e repassa a conta aos consumidor­es.

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