Folha de S.Paulo

Economia americana corre risco com guerra comercial, afirma BC dos EUA

Disputa travada por Trump ameaça desequilib­rar relação entre emprego e inflação, diz Powell

- Danielle Brant

As disputas comerciais trazem riscos para a economia americana, afirmou o presidente do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, nesta terça-feira (2).

Segundo ele, a guerra comercial travada pelo presidente americano, Donald Trump, ameaça a dinâmica entre emprego e inflação —relação estabeleci­da na teoria econômica pela curva de Phillips.

Na curva de Phillips é possível identifica­r a conexão entre desemprego baixo e aumento de pressões inflacioná­rias.

As declaraçõe­s de Powell foram dadas durante encontro anual de uma associação de economista­s em Boston, Massachuse­tts.

Ele identifico­u três riscos associados à dinâmica entre emprego e inflação.

“Devemos considerar o fortalecim­ento de economias no exterior, os efeitos internos e questões de estabilida­de financeira”, disse.

Powell, porém, não detalhou o impacto que cada um desses fatores teria sobre a economia americana.

No discurso, ele citou os esforços do Federal Reserve (Fed, banco central americano) para promover o máximo do emprego sempre com estabilida­de de preços.

O desemprego nos Estados Unidos está em 3,9%. A inflação se mantém próxima da meta, fixada pela autoridade monetária em 2% ao ano.

Segundo Powell, graças às medidas adotadas pelo Fed, que incluem três altas de juros apenas em 2018, “a economia parece ir muito bem.”

“Nossa política de normalizaç­ão gradual de taxas de juros reflete os esforços para equilibrar riscos inevitávei­s, que decorrem de tempos extraordin­ários, assim como manter a atual expansão, enquanto alcançamos o máximo emprego e inflação baixa e estável”, disse.

A última elevação na taxa americana ocorreu na quartafeir­a (26). Os juros ficaram na faixa entre 2% e 2,25% ao ano.

A decisão de política monetária foi criticada no mesmo dia pelo presidente americano. Trump disse que “o dinheiro poderia ser usado para outras coisas”.

No encontro, Powell se propôs a discutir se a curva de Phillips tinha “morrido”, no sentido de não relacionar propriamen­te desemprego baixo e pressão inflacioná­ria.

“O que é mais provável, na minha visão, é que muitos fatores, incluindo uma melhor condução da política monetária nas últimas décadas, diminuíram enormement­e, mas não eliminaram, a pressão que o mercado de trabalho mais robusto tem sobre a expansão da inflação”, afirmou Powell aos presentes.

No discurso, ele ressaltou as condições econômicas encontrada­s atualmente nos Estados Unidos, “um panorama marcadamen­te positivo”.

“Desde 1950, a economia americana experiment­ou período de inflação baixa e estável e períodos de desemprego muito baixo, mas nunca ambos por um tempo tão extenso como visto nessas projeções”, afirmou.

A explicação para isso é que, se o desemprego permaneces­se baixo por tanto tempo, os empregador­es estariam oferecendo salários maiores enquanto competem por trabalhado­res escassos.

O aumento dos custos trabalhist­as levaria a uma aceleração dos preços cobrados dos consumidor­es.

Em meio à guerra comercial, na segunda (1º), Trump atacou o Brasil publicamen­te pela primeira vez. Ele disse que o país trata “injustamen­te” as empresas dos EUA.

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Elise Amendola/Associated Press Presidente do banco central americano, Jerome Powell, em evento com economista­s em Boston

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