Folha de S.Paulo

Marcas precisam firmar posição, diz diretor da Ogilvy

- Leonardo Maran

Quando a Nike anunciou o jogador de futebol americano Colin Kaepernick como seu novo garoto-propaganda, no início de setembro, ações da empresa caíram 3%.

Em 2016, o então quarterbac­k do San Francisco 49ers causou polêmica ao ouvir sentado a execução do hino dos EUA antes das partidas, como protesto contra a desigualda­de racial.

Para Félix del Valle, diretorger­al de criação da agência de publicidad­e Ogilvy Brasil, a marca tomou uma decisão corajosa e acertada.

Num mundo cada vez mais polarizado, posicionam­entos como esse aumentam as oportunida­des da empresa, assim como os riscos, disse.

Ele participou na quintafeir­a (27) do programa Arena do Marketing, promovido pela Folha e pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Ao seu lado, estava a professora de branding e novas tendências da universida­de Ana Cristina Puglia, em uma conversa mediada pela jornalista colaborado­ra da Folha Laura Mattos.

Valle também elogiou a resposta dada aos haters, que começaram a postar vídeos na internet queimando peças de vestuário da Nike. Nas redes sociais, a empresa publicou instruções de como atear fogo a roupas com segurança.

“Ontem eu soube que as ações deles subiram. Se você abraçar uma coisa em que acredita, vai ter gente te seguindo até o fim”, disse o representa­nte da Ogilvy.

A agência, presente em 83 países, não participou da criação da campanha da Nike.

Mas ousadia nem sempre rende bons frutos. No caso do comercial da Gillette com declaração de Neymar após o fim da Copa, a repercussã­o foi negativa.

“Apesar de não ter dado certo, acabou arranhando mais a marca Neymar que a Gillette”, diz Puglia, que viu falta de autenticid­ade na fala do futebolist­a.

Valle foi um dos criadores da campanha Os Donos da ***** Toda, da Fanta, que reúne influencia­dores como Christian Figueiredo, Malena, Poladoful e Pyong Lee, entre outros.

Além de aparecer em comerciais de TV, o grupo protagoniz­ou um reality show, transmitid­o pelo canal Sony, e participou da criação de conteúdo para as redes sociais e peças publicitár­ias da marca.

Para o publicitár­io, uma empresa tem muito a ganhar ao associar sua marca a influencia­dores digitais, porque eles costumam ser mais próximos do público do que celebridad­es de TV ou do esporte, além de transmitem naturalida­de.

Mas enfatizou também os riscos de focar toda uma estratégia em um indivíduo, já que não há como controlar declaraçõe­s e ações que aconteçam fora do ambiente publicitár­io.

“Ou você abraça e tenta criar um ambiente de colaboraçã­o com ele ou procura outra pessoa, um ator de telenovela”, sugere.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil