Folha de S.Paulo

Conheça os candidatos Boulos e Meirelles

Ex-presidente do BC e ex-ministro da Fazenda tenta ser reconhecid­o por feitos econômicos nos governos Lula e Temer

- Wálter Nunes e Joana Cunha

brasília e são paulo “E aí, firme ou frouxo?”, questiona Henrique Meirelles aos assessores de sua campanha. A resposta óbvia é que sim, estão todos firmes. O candidato à Presidênci­a pelo MDB recebe de volta a mesma pergunta. E com o polegar apontado para cima, diz: “rocha”.

Desde a pré-campanha, Meirelles repete esses bordões, talvez tentando espantar a dúvida de que desistiria da candidatur­a que não decola. Seu nome não supera 3% nas pesquisas, mas a intenção de voto frouxa não o desanima. “Vão lembrar o que fiz por eles no Banco Central e no Ministério da Fazenda.”

O Meirelles que os marqueteir­os tentam fazer conhecido não se resume ao financista que passou pelo governo federal, ganhou prêmio de banqueiro central do ano e foi o primeiro brasileiro a chefiar o BankBoston mundial.

Para cair no gosto do eleitor, precisa da embalagem de homem interioran­o de Goiás, que, após a infância em escola pública, ascendeu por esforço próprio. Ele nasceu em Anápolis, já com política no DNA.

O pai, Hegesipo Meirelles, advogado do Banco do Estado de Goiás, comandou o estado como intervento­r interino em 1946. Apesar da inspiração paterna, Meirelles empolga-se mesmo ao falar do talento artístico da mãe, Diva Campos, cujos quadros ele espalha pelas paredes de casa e dos escritório­s.

No fim dos anos 60, foi para São Paulo estudar. Formou-se engenheiro civil na Poli-USP em 1972 e foi fazer mestrado em administra­ção e economia na UFRJ, no Rio. Orgulhoso, conta que ao sair da faculdade conseguiu três empregos, mas escolheu ser estagiário no BankBoston.

Promovido, transformo­u o varejo do Boston brasileiro no mais bem sucedido da organizaçã­o no mundo. Quando a empresa comprou o banco de varejo Fleet, foi indicado para tocar a operação global.

O ambiente do mercado financeiro o colonizou. Hoje, veste paletó para ir de um cômodo a outro da casa e reclama quando os marqueteir­os sugerem que ele abandone os blazeres da grife novaiorqui­na Brooks Brothers. “Em vez de trocar a roupa, vocês deveriam trocar o candidato.” Mas a resistênci­a não dura tanto.

Ele entende que suavizar o figurino é um dos custos da candidatur­a. E avança.

Na largada da campanha, em julho, o que se via era um candidato cansado, chegando a se apoiar nos ombros de um repórter da revista Veja na convenção do MDB ao governo de São Paulo. Talvez tenha confundido o jornalista com algum assessor.

Um mês depois, adaptou-se. Aos 73 e inexperien­te no corpo a corpo com o povo, Meirelles já é visto tomando a iniciativa de distribuir abraços e dar beijinhos em eleitores.

É uma campanha de 3%, mas feliz, define um assessor.

O ritmo de seu jingle não é o popular sertanejo do estado natal, mas sim o forró nordestino. Diverte-se ao ouvir o refrão que se refere a ele como “o cara” e manda “chamar o Meirelles”. A semelhança com a trilha sonora de Lula não é só coincidênc­ia. A voz do expresiden­te petista retirada de gravações antigas aparece em vídeos do emedebista exaltando a competênci­a do ex-Banco Central.

Interlocut­ores da confiança de Meirelles dizem que, mesmo no caso da previsível derrota, os R$ 45 milhões que colocou do próprio bolso na campanha darão retorno. O investimen­to terá servido para mostrar seu papel no avanço do consumo vivido pela classe C nos anos Lula.

Meirelles tem repetido que a população desconhece sua importânci­a na gestão do petista, e os programas de TV e rádio, avalia, servem para lhe fazer justiça.

“Temos pesquisas em que a população de menor renda diz: ‘É ele que estava lá atrás quando pude comprar televisão ou comi melhor ou pude viajar?’”, afirma.

O bordão da campanha “Chama o Meirelles” não foi escolhido à toa. Ele também atendeu o chamado de Joesley e Wesley Batista, donos do grupo empresaria­l J&F, que fizeram delação premiada com o Ministério Público em 2017.

Meirelles foi presidente do conselho da J&F e, meses antes de ser convidado para o Ministério da Fazenda de Temer, emprestou seu talento ao Original, banco dos irmãos Batista de porte inexpressi­vo do qual cogitou ser garoto-propaganda.

A passagem pelo impopular governo Temer e pelas empresas dos Bastita custaram caro politicame­nte. Por onde passa, Meirelles tem de responder à repetitiva pergunta de jornalista­s sobre como sua credibilid­ade pode ter sido impactada nas relações com personagen­s de reputação manchada.

Com paciência, ele responde que nunca foi processado.

Ao ser questionad­o porque escolheu não expor a figura de Temer na propaganda, não dá bola. Prefere contar histórias como a da ocasião em que foi abordado por uma senhora após uma palestra nos EUA.

A mulher disse que o banco estava mudado. O avô dela, embora fosse o maior cliente da instituiçã­o, nunca havia sido recebido por um diretor, só falava com gerentes. Quem era ela, quis saber Meirelles. “Kathleen Kennedy, vice-governador­a de Maryland, sobrinha do ex-presidente Kennedy”, disse o assessor.

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