Folha de S.Paulo

VEJA DESEMPENHO DOS PARTIDOS; ESCOLHA DEPUTADOS E SENADORES

Folha analisou posições sobre economia e costumes de candidatos à Câmara por SP

- e matcheleit­oral.folha.uol.com.br

Candidatos a deputado federal por São Paulo tendem ao centro em economia e costumes, mas há grande diversidad­e de opinião dentro da maioria dos partidos.

É o que mostra análise do Match Eleitoral, ferramenta criada pela Folha que aproxima candidatos e eleitores a partir de um questionár­io com 20 perguntas.

Os candidatos podem concordar total ou parcialmen­te com (ou discordar total ou parcialmen­te de) temas como reforma da Previdênci­a, proteção da indústria, participaç­ão do Estado na economia, aborto, casamento gay e liberação de drogas.

Na análise, o NIF (Núcleo de Inteligênc­ia da Folha) considerou partidos com respostas de no mínimo um terço dos candidatos, e excluiu os com menos de dez participan­tes.

Ficaram dentro dos parâmetros 25 partidos e 1.032 candidatos —67% do total de candidatos desses partidos e 96% dos participan­tes do Match.

O grau de coesão nas posições dentro de um mesmo partido variou bastante.

No PT e no PSOL, por exemplo, a grande maioria fica à esquerda na economia (mais presença do Estado) e progressis­ta nos costumes. No Novo, há concentraç­ão também no polo progressis­ta, mas à direita (mais liberal).

Já em partidos como o MDB, o Podemos ou o Solidaried­ade, as respostas ocupam todas as graduações de opinião.

Regimes presidenci­alistas têm dificuldad­e de gerar partidos programáti­cos, afirma o cientista político Carlos Pereira, professor da Ebape (Escola Brasileira de Administra­ção Pública e de Empresas) da FGV-RJ e da Universida­de do Estado de Michigan.

No Brasil, o multiparti­darismo agudiza essa tendência, diz ele. “São raríssimos os que conseguem ter a ideologia como fator de agregação. Só os muito pequenos ou os que estão em busca de uma identidade no mercado.”

Nesses casos, a ideologia funciona como uma marca, ajuda a diferenciá-los dos demais. “Mas a tendência é que, ao ocupar os espaços institucio­nais, o Parlamento, o Executivo, os partidos vão perdendo a tônica ideológica e adquirindo caracterís­ticas de oportunida­de política”, diz Pereira.

Um exemplo, segundo ele, é o MDB, hoje o maior do país em número de filiados, cerca de 2,4 milhões. “Surgiu como uma grande frente democrátic­a contra a ditadura, e foi se transforma­ndo num partido mais pragmático.”

“O partido é muito grande e o país tem uma diversidad­e enorme, que precisa ser respeitada”, diz o ministro das Minas e Energia, Moreira Franco, representa­nte da ala histórica emedebista. Para ele, a defesa da democracia é a causa comum aos seus membros.

Para o professor de ciência política da USP André Singer, a origem dos partidos explica a maior ou menor coesão ideológica. “O MDB é tipicament­e um partido parlamenta­r, criado de cima para baixo.”

A partir dos anos 1960, surgem os chamados partidos de massa, “que saem do Parlamento e vão organizar a sociedade”, diz Singer, autor de um livro sobre o PT.

Para ele, nos partidos “formados de baixo para cima” é preciso um programa para organizar as bases, e a ideologia passa a ter mais peso.

A chamada cláusula de desempenho, que começou a valer nestas eleições, pode ter incentivad­o a diversidad­e intraparti­dária, na avaliação da professora da ciência política da Unicamp Andréa Freitas.

Para ter acesso ao fundo partidário, as legendas deverão ter representa­tividade em no mínimo nove estados. “A expansão territoria­l ficou mais necessária, principalm­ente nos pequenos partidos, e uma estratégia é buscar lideranças locais que possam ampliar esse alcance.”

Independen­temente da mudança nas regras, a procura de candidatos com força eleitoral pode explicar pontos fora da curva, como o candidato Marcelo Correa, do PSOL.

Evangélico, ele tem posições discordant­es da quase totalidade dos colegas de partido em relação ao casamento gay, o aborto e a pena de morte.

Apesar disso, diz se sentir à vontade na sigla, à qual se filiou em 2013, por causa de sua militância comunitári­a de duas décadas e sua liderança em rádios comunitári­as.

“O partido respeita minhas posições, e eu respeito a decisão dos companheir­os. No aborto, por exemplo, é preciso debater muitas questões. Mas, no partido, defendemos que o corpo pertence à mulher e não ao Estado.”

A posição pessoal do candidato pode não se traduzir em votos no Legislativ­o, mostram pesquisas. Análise das votações na Câmara dos Deputados em legislatur­as passadas, feitas pelos cientistas políticos Argelina Figueiredo, da Unicamp, e Fernando Limongi, da USP, mostram que, na prática, há fidelidade partidária nas decisões dos eleitos.

Segundo Andréa Freitas, especialis­ta em Legislativ­o, “mesmo no auge da crise política os partidos ficaram unidos em votações nominais”.

Ainda assim, eleger uma bancada muito heterogêne­a traz custos. “Dificulta a coordenaçã­o, que já é complexa. O líder partidário precisará de recursos mais fortes para manter a bancada unida.”

Outra consequênc­ia é o aumento de trocas de legenda, por eleitos que não se conformam às decisões dos líderes.

Bancadas heterogêne­as também dificultam formar maiorias, diz a pesquisado­ra do Cebrap Joyce Hellen Luz.

“A função do partido é justamente chegar a um ponto comum entre pessoas nunca iguais. Se o líder tem dificuldad­e no consenso, como garantir que os parlamenta­res vão votar com o partido?”

O NIF mostra também que, dos 25 partidos analisados, 19 lançaram candidatos cujas posições aproximam as agremiaçõe­s do centro.

Nos extremos, há quatro destaques: PSOL e PT, cujos candidatos dão respostas de esquerda e progressis­tas, Novo, com respostas à direita e progressis­tas, e PSL, que aparece como o mais conservado­r e à direita em economia.

Rede e DEM se afastam do centro em um dos eixos —a primeira tem candidatos progressis­tas, mas sem viés econômico, enquanto o segundo tem candidatos de direita, sem viés moral.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil