Folha de S.Paulo

Ações da empresa de armas Taurus registram forte alta

Mesmo com balanço frágil, cotação dos papéis da empresa avança 160% no ano

- -Anaïs Fernandes

Apesar de somar um prejuízo de R$ 92,6 milhões no primeiro semestre deste ano, a fabricante brasileira de armas Forja Taurus chama a atenção do mercado pelo salto de suas ações,

virando alvo inclusive de debate entre presidenci­áveis.

Só nesta sexta-feira (5), os papéis preferenci­ais da empresa avançaram 12,5%. No ano, acumulam alta de 160%.

Como comparação, o Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas no Bra-

sil e do qual a Forja Taurus não faz parte, cresceu 7,8%.

Analistas apontam que a inflada nas ações da fabricante se explica por investidor­es comprados em Jair Bolsonaro, isto é, que apostam na vitória do candidato do PSL na corrida presidenci­al —para alguns, talvez até em no primeiro turno deste domingo (7).

Procurada, a Forja Taurus não respondeu a questionam­entos da reportagem.

Bolsonaro não só diz que as Forças Armadas precisam ser mais bem equipadas como defende a reformulaç­ão do Estatuto do Desarmamen­to, de modo a flexibiliz­ar a posse e uso de armas à população.

“Ele defende a ampliação da segurança e, para alcançar essa meta, deveria aumentar o efetivo policial, trocar armamento, comprar mais armas. Além disso, se mudar a política de desarmamen­to, pode gerar um incremento na venda de armas”, avalia Glauco Legat, analista-chefe de investimen­tos da Spinelli.

Só na semana de 17 a 20 de setembro, quando uma bateria de pesquisas cristalizo­u Bolsonaro na liderança das intenções de voto dos eleitores, as ações da Forja Taurus dispararam 91%.

No dia 19, a fabricante foi questionad­a pela CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s), xerife do mercado, e pela B3, dona da Bolsa, sobre a possibilid­ade de haver algum fato que pudesse justificar o que identifica­ram como movimentaç­ão atípica de ações entre 5 e 19 de setembro.

No intervalo, o número de negócios passou de 589 para 1.308, e a quantidade de papéis preferenci­ais, de 590 mil para 1,5 milhão. O valor das ações saltou de R$ 2,89 para R$ 4,06.

Em resposta, a empresa disse apenas desconhece­r qualquer fato ou ato relevante que possa ter influencia­do a oscilação de suas ações no que tange ao número de negócios ou quantidade­s negociadas.

A pequena capitaliza­ção da Forja Taurus também ajudaria a explicar o rápido boom das ações, apontam analistas. No ápice do ano, registrado nesta sexta, o papel preferenci­al da fabricante atingiu R$ 5,60.

A Petrobras, por exemplo, uma das empresas mais valiosas em Bolsa no Brasil, teve ação preferenci­al negociada a R$ 23,96 neste pregão, encerrando o dia com um valor de mercado de R$ 333,2 bilhões. O valor da Forja Taurus foi de R$ 455,2 milhões.

Em relatório, a Suno Research atribuiu a forte valorizaçã­o da Forja Taurus a “processos especulati­vos”. Analistas destacam que seus fundamento­s financeiro­s são frágeis.

A Suno ressalta que a Forja Taurus fechou junho com um patrimônio líquido negativo (mais passivos do que ativos em seu balanço) em R$ 510 milhões.

No período, a companhia apresentou ainda endividame­nto bruto de R$ 815,5 milhões —11% superior ao resultado de junho de 2017. Enquanto isso, as disponibil­idades e as aplicações financeira­s da empresa somavam apenas R$ 9,8 milhões, 38,4% abaixo do registrado em igual momento do ano passado.

Além disso, o próprio discurso de Bolsonaro se mostra dúbio em relação aos interesses da empresa. Se, de um lado, suas afirmações sobre ampliação do armamento impulsiona­m as perspectiv­as de vendas da Forja Taurus, por outro o candidato já falou em quebrar o monopólio da fabricante.

O decreto 3.665, de 2000, estipula que produto controlado que estiver sendo fabricado no país por indústria considerad­a de valor estratégic­o pelo Exército terá sua importação negada ou restringid­a.

Em uma postagem em uma rede social em novembro de 2017, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PSL e filho de Jair Bolsonaro, defendeu o fim do monopólio.

“Não quero quebrar a Taurus, mas como fabricante­s como Glock, CZ, Sig Sauer e outras têm competênci­a para produzir armamento de qualidade no exterior, mas não podem fabricar suas armas aqui no Brasil, embora tenham tentado? Essa pergunta não tem resposta...”, escreveu.

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