Folha de S.Paulo

Corinthian­s começa a decidir contra o Cruzeiro, em Minas, a Copa do Brasil

Com pouco tempo de trabalho, técnico corintiano atribui à mística do uniforme campanha que colocou time na final da Copa do Brasil

- Luciano Trindade e Luiz Cosenzo Bruno Santos/Folhapress

O técnico Jair Ventura, 39, completa nesta quarta-feira (10) o seu 34º dia à frente do Corinthian­s e já terá de encarar uma final de campeonato. Contra o Cruzeiro, às 21h45, no Mineirão, ele comanda a equipe na partida de ida da decisão da Copa do Brasil. O jogo de volta será no Itaquerão, no dia 17.

O pouco tempo de trabalho é um obstáculo para o treinador, que esteve à frente da equipe em só sete jogos. Por isso, uma das apostas do carioca, contratado após queda de rendimento do time sob o comando de Osmar Loss, é confiar no “peso” da camisa.

“O Corinthian­s, mesmo com as dificuldad­es que todos falam, está mostrando sua força. A nossa camisa pesa muito quando chega essa hora de decisões, em uma grande final”, diz Jair Ventura à Folha.

Para tentar explicar de onde viria essa força inerente, quase mística, da camisa corintiana, o treinador usa como exemplo o Real Madrid, maior campeão da Champions League, com 13 títulos.

“Se você está sempre chegando em finais, você fica muito mais próximo do título. Como o Real Madrid, que está sempre chegando e ganhando. É a camisa. E o Corinthian­s tem isso”, diz.

Ele já observou do outro lado a tal “força” da camisa. “Eu nunca ganhei do Corinthian­s jogando na arena [em Itaquera]. Já joguei até melhor, com o Santos, mas não vencemos. É difícil, a gente sabe. Isso pesa, já vi jogadores falando disso.”

À frente do Santos, em março deste ano, o técnico conseguiu um empate na casa do Corinthian­s, por 1 a 1. Pelo Botafogo, sofreu duas derrotas, em 2016 e 2017.

O quanto você já implemento­u da sua filosofia de trabalho no Corinthian­s?

O trabalho é do Corinthian­s, não é meu. Dou sequência a um trabalho que vem sendo realizado há anos. Estamos implementa­ndo alguns detalhes, mas a força e o mérito são sempre do grupo. Mesmo com todas as perdas que tivemos, o time continuou conseguind­o bons resultados. Claro que teve oscilações, mas todos os times vão passar por isso.

Mesmo assim, depois de pouco mais de um mês, você já pode conquistar um título, seu primeiro como técnico. Atribui isso a quê?

O Corinthian­s, mesmo com as dificul- Jair Ventura, 39

Natural do Rio de Janeiro e com formação em Educação Física, é técnico desde 2016. Iniciou a carreira no Botafogo e teve passagem pelo Santos no primeiro semestre deste ano, antes de chegar ao Corinthian­s. Como jogador, atuou de 1999 a 2006 dades que todos falam, está mostrando sua força. Nossa camisa pesa muito quando chega essa hora de decisões, em uma grande final.

É só olhar a Liga dos Campeões. Vê se o Paris [Saint-Germain] chega em uma decisão. Quem é que sempre ganha? Não tem jeito. Uma hora pode até ganhar, vai. Mas, se você está sempre chegando em finais, você fica muito mais próximo do título. Como o Real Madrid, que está sempre chegando e ganhando. É a camisa. E o Corinthian­s tem isso. Vai ser determinan­te? Não, mas ajuda. Como foi contra o Flamengo e vai ser contra o Cruzeiro, como sempre é para quem estiver enfrentand­o um time como o Corinthian­s.

A camisa faz a diferença? Não é comum os clubes terem uma identidade de jogo definida. Como é trabalhar com isso no Corinthian­s?

Não tem mesmo. É muito difícil ter. O Manchester United joga da mesma maneira há muitos anos. Eles conseguem contratar dentro da caracterís­tica que eles querem. No Brasil a gente sabe que não é assim. Além de não conseguir contratar, também não consegue formar na base jogadores com a caracterís­tica e o modelo de jogo que você quer. Mesmo com o Corinthian­s já tendo essa filosofia implementa­da, a gente vê mudanças.

Como fazer os jogadores acreditare­m nesse trabalho?

Esse é o grande segredo do treinador. É ter o poder de persuadir. Não adianta você ter apenas o conteúdo, você tem que saber vender a ideia.

Como sua formação em análise de desempenho o ajuda

nos treinament­os? Ajuda na leitura do jogo. Para mim, foi fantástico porque eu trabalhei como observador técnico muitos anos e viajava para ver os jogos, montava um estudo e apresentav­a para os jogadores do Botafogo. Eu conheci muitos jogadores com esses estudos e consegui ler muito jogos através disso.

Isso ajuda a compensar quando você não tem tanto tempo para treinar?

Lógico. Aqui, por exemplo, quando eu cheguei, não fiz nenhum treino e já tive dois jogos. Então, você vainovídeo.Estudaevêo­nde você pode ou não ir, onde dá para explorar e onde não. Ajuda bastante, principalm­ente com esse nosso calendário.

O nível dos técnicos brasileiro­s melhorou depois do 7 a 1?

A gente tinha uma carência muito grande de cursos no Brasil até a CBF começar a promover esses que existem hoje. Isso é bom, porque quem queria se preparar mais tinha de sair do Brasil. Nem livro tinha aqui. Não acredito nessa de dividir nova e velha geração de treinadore­s. Acho que existem técnicos jovens que não estão prontos e experiente­s que já não estão tão bem. Acabam ficando os melhores.

O Mano Menezes, seu adversário na final, tem rótulo de ser retranquei­ro. Você se incomoda com rótulos?

Eu vou começar a ter rótulos porque eu me defendo muito bem, assim como o Mano. Isso pra mim é orgulho. Pergunta se eu fico chateado? Eu não posso ficar chateado. O Mano está com essa carreira vitoriosa, chegou à seleção brasileira jogando dessa maneira. O Tite também foi campeão ganhando de 1 a 0, meio a zero. Estou no caminho certo. Espero trilhar o caminho de dois treinadore­s super vitoriosos.

A Copa do Brasil costuma revelar técnicos, como Felipão, campeão com o Criciúma em 1991, e o próprio Mano Menezes, semifinali­sta com o 15 de Novembro em 2004. Mas alguns técnicos ganham esse torneio e depois não confirmara­m a expectativ­a. O que explica isso?

Não adianta conquistar títulos e não realizar bons trabalhos. Se olhássemos só títulos, eu não estaria hoje no Corinthian­s. Você pode ganhar um título em 10, 12 jogos e não se manter no topo. O meu grande título foi ficar 99 jogos no Botafogo. Ninguém fica 99 jogos ininterrup­tos sem fazer um bom trabalho, alcançando os objetivos, chegando nas decisões. Um título vai dar uma tranquilid­ade momentânea, mas não duradoura. Então precisa conciliar títulos e bons trabalhos.

“Se você está sempre chegando em finais, fica mais próximo do título. Como o Real Madrid, que está sempre ganhando. É a camisa. E o Corinthian­s tem isso

Se ganhar o título da Copa do Brasil, o Corinthian­s começa a pensar em 2019?

Não. A gente sabe da importânci­a do Brasileiro. Tem casos, como o do próprio Felipão, que ganhou a Copa do Brasil e foi rebaixado. Nós não queremos isso. Tem de estar atento nos dois. Nada vai ser decidido, a não ser a classifica­ção [para a Libertador­es]. O Brasileiro continua tendo de ser levado com muita seriedade.

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O técnico do Corinthian­s, Jair Ventura, após comandar treino no CT do clube alvinegro

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