Folha de S.Paulo

PT resiste a listar nomes de eventual equipe econômica

Em outra frente, auxiliares do candidato tentam aproximaçã­o com empresário­s e investidor­es

- Marina Dias e Catia Seabra

A cúpula da campanha do presidenci­ável Fernando Haddad resiste a anunciar nomes para uma possível equipe econômica. Dirigentes do PT argumentam que o mercado não votará no partido e que a prioridade é falar com o povo mais pobre.

A cúpula da campanha de Fernando Haddad (PT) ainda resiste a anunciar nomes para uma possível equipe econômica caso o petista vença o segundo turno das eleições presidenci­ais, em 28 de outubro.

Por outro lado, Haddad está ciente de que é preciso ser portador de um discurso mais moderado frente ao mercado e já escalou auxiliares de sua confiança para abrir diálogo com empresário­s e investidor­es há algumas semanas.

Dirigentes do partido argumentam que “o mercado não vai votar no PT”, porque já foi seduzido pelas ideias liberais do economista Paulo Guedes, o guru de Jair Bolsonaro (PSL) que ficará com o Ministério da Fazenda em seu eventual governo, e que a prioridade agora é falar “diretament­e com o povo mais pobre”.

“Se o mercado escolheu Jair Bolsonaro como candidato, queremos que o povo escolha o Haddad. O mercado vai escolher quem quer, mas vai ter que conviver com quem for eleito”, afirmou Jaques Wagner, novo coordenado­r e articulado­r político da campanha de Haddad.

“O candidato do mercado é o do PSL, mas vamos provar que o candidato do povo é Haddad e o mercado vai se curvar”, completou.

A tese é que será preciso confrontar medidas econômicas do governo Lula com propostas de Bolsonaro e mostrar que o capitão reformado votou por projetos considerad­os contra os trabalhado­res e que seu eventual governo vai prejudicar a população mais carente.

Com essa retórica, os petistas pretendem recuperar o voto tradiciona­lmente lulista que migrou para Bolsonaro, inclusive no Nordes- —o candidato do PSL terminou o primeiro turno com 46% dos votos, contra 29% dados a Haddad.

Reportagem da Folha desta terça (9) mostrou que o capitão reformado está reunindo apoio do setor privado para levar executivos para o governo, caso seja eleito.

Entre os nomes estão Alexandre Bettamio, presidente­executivo para a América Latina do Bank of America, João Jaques Wagner, coordenado­r e articulado­r político da campanha de Haddad Cox, presidente do conselho de administra­ção da TIM e Sergio Eraldo de Salles Pinto, da Bozano Investimen­tos.

Os petistas dizem que a divulgação desses perfis é uma tática de Bolsonaro para se mostrar menos frágil.

Na reta final do primeiro turno, o candidato do PSL precisou calibrar ou até mesmo desmentir diversas declaraçõe­s de seus auxiliares, inclusive de Guedes, que sinalizou com a criação de um imposto sobre transações financeira­s nos moldes da extinta CPMF.

Os aliados políticos de Haddad dizem que nomear pessoas antes de vencer a disputa pode parecer arrogância e que os ministeriá­veis devem ser anunciados somente se o petista ganhar a eleição.

Já o grupo mais próximo ao candidato, contudo, quer que ele seja portador de uma mensagem mais moderada — comprometi­da com a austeridad­e e o fim do déficit fiscal em quatro anos.

Tentar conquistar o apoio de parte do mercado e de setores mais amplos da sociedade, além dos partidos, na avaliação desses auxiliares, também seria uma forma de Haddad tentar conter a onda de apoio Bolsonaro.

O ex-presidente Lula, antes refratário à ideia de fazer acenos para o mercado já no primeiro turno, liberou Haddad para ter autonomia em sua campanha.

O recado foi interpreta­do por esse grupo como senha para continuar a tocar as conversas, inclusive com integrante­s do setor financeiro.

Eles querem mostrar que um eventual governo petista não será de radicalism­o econômico e que o candidato está disposto a flexibiliz­ar pontos polêmicos do programa de governo do PT —e incluir bandeiras de outros candida- tos, como Ciro Gomes (PDT), como contrapart­ida para o fechamento de aliança com exadversár­ios. Uma das ideias do ex-governador do Ceará que pode ser incorporad­a por Haddad diz respeito a medidas para a indústria.

Os dois grupos, no entanto, concordam que é preciso fazer o aceno ao chamado centro político.

A ideia é que as alianças programáti­cas ocorram com partidos da centro-esquerda, como PDT, PSB e PSOL, mas que outra frente mais ampla, que pode contar mesmo com integrante­s do PSDB, por exemplo, precisa ser criada em defesa de valores da democracia.

Nesta terça, o PSDB anunciou que não apoiará nenhum candidato no segundo turno e liberará seis integrante­s para escolherem quem quiserem.

O PSOL, de Guilherme Boulos, já anunciou apoio a Haddad. PSB e PDT seguem em conversas com petistas e devem anunciar suas decisões até o fim da semana.

Além da chegada de Jaques Wagner à coordenaçã­o da articulaçã­o política, outros parlamenta­res eleitos foram escalados para fazer contato com evangélico­s, católicos e integrante­s de movimentos sociais e sindicais, além de coordenar a agenda de campanha nos estados.

“O candidato do mercadoé odo PS L, mas vamos provar que o candidato do povo é Haddad

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Edilson Dantas /Ag. O Globo O candidato Fernando Haddad participa de encontro com lideranças do PT em São Paulo

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