Folha de S.Paulo

SUPERTÚNEL DE ESGOTO

Tubulação de 7,5 km da Sabesp deve receber esgoto de 2 milhões de pessoas da cidade de São Paulo

- Fabrício Lobel Lalo de Almeida/Folhapress

Sob a marginal Tietê, em SP, tubulação de 7,5 km deve receber, a partir de 2020, esgoto de 2 milhões de pessoas e contribuir para despoluiçã­o do rio

Todos os dias, 18 metros abaixo das pistas da marginal Tietê, operários escavam a terra para a construção de um túnel. O projeto avança 1 metro a cada turno de 12 horas de trabalho.

Até o início de 2020, a obra deve entregar a São Paulo um supertúnel de 7,5 km por onde deve passar o esgoto de 2 milhões de pessoas da capital.

Essa é uma das mais importante­s etapas do Projeto Tietê, conjunto de obras que é tocado pela Sabesp (companhia paulista de água e saneamento) com o objetivo de tornar o rio Tietê limpo de novo.

O supertúnel deve receber os dejetos de uma grande área da cidade, que abrange desde o jardim zoológico, na zona sul de São Paulo, até o centro.

Grande parte dos dejetos dessa região é hoje purificada na estação de tratamento de esgoto de Barueri, na Grande SP, que é a maior do Brasil, com capacidade para até 16 mil litros por segundo (volume equivalent­e a 26% de toda a água que é consumida na região metropolit­ana de São Paulo).

Com o novo túnel, o esgoto continuará indo para Barueri. O que mudará é o caminho.

Atualmente, o material desce por gravidade pelos canos subterrâne­os ao longo do rio Tamanduate­í, desde a zona sul de São Paulo. Próximo ao encontro do Tamanduate­í com o rio Tietê, o esgoto é bombeado até túneis antigos que ficam sob a avenida Marquês de São Vicente e de lá segue até a estação de tratamento.

Quando o supertúnel sob a marginal estiver pronto, irá receber a maior parte desses resíduos, aliviando assim o já saturado emissário sob a Marques de São Vicente.

O supertúnel da marginal Tietê tem 2,65 metros largura por 3,4 metros de altura. Em alguns pontos chega a ser maior, com 3,4 metros de largura por 4,25 metros de altura. O túnel da Marquês de São Vicente tem 2,80 metros de largura por 1,80 metro de altura.

Além do túnel sob a marginal, a Sabesp está construind­o ainda outra tubulação de esgoto, um pouco menor, ao longo do rio Tamanduate­í, no centro da cidade. Fecham o pacote de obras pequenas interligaç­ões de canos subterrâne­os na região da rua 25 de

Março e do vale do Anhangabaú, no centro. O conjunto de intervençõ­es está orçado em R$ 358 milhões e tem recursos federais.

O contrato foi firmado em 2013, mas teve de ser suspenso durante a crise hídrica que castigou São Paulo de 2014 a 2016. A Sabesp teve de focar todos os seus recursos na garantia da obtenção de água. Por isso, a obra só pôde ser retomada em 2016.

Essa nova rede de tubulações terá capacidade de levar uma quantidade maior de esgoto para a estação de tratamento de Barueri. Para receber esse volume, a estação de tratamento também teve sua capacidade de operação ampliada em 60%, desde o início de 2017.

Ao término desta fase [do Projeto Tietê], o paulistano já não terá um rio tão fétido quanto hoje e terá uma condição paisagísti­ca melhor Malu Ribeiro, da ONG SOS Mata Atlântica

Grande SP ainda tem 13% do esgoto fora do processo de coleta

De acordo com dados da própria Sabesp, 13% do esgoto gerado na Grande São Paulo ainda não é coletado pela companhia. E 39% ainda não é tratado, o que polui os córregos e rios da cidade, incluindo o rio Tietê.

As novas estruturas poderão receber parte desse esgoto que hoje é gerado mas não é tratado. Os túneis também devem preparar a cidade para o seu cresciment­o num horizonte de 30 a 40 anos, segundo cálculos da Sabesp.

“Todo o sistema de esgoto nessa região está saturado e já não está suportando o volume de esgoto dessa região, que tem um movimento de verticaliz­ação”, diz Andrea Ferreira, gerente da Sabesp e coordenado­ra do Projeto Tietê.

As obras fazem parte da principal bandeira do setor ambiental do governo paulista, o Projeto Tietê, que já consumiu US$ 2,8 bilhões desde 1992, sem considerar a inflação. Nos primeiros anos do projeto, a Sabesp e o governo do estado chegaram a dizer que até 1998 o Tietê já teria peixes e que, em 2005, estaria completame­nte limpo.

O otimismo daquela época não se confirmou. Segundo a SOS Mata Atlântica, o rio ainda está morto em 122 km (contra 530 km na década de 1990) dos 1.100 km de extensão. Malu Ribeiro, da ONG ambientali­sta, analisa que as primeiras metas de se limpar o Tietê eram irreais e ajudaram a criar uma sensação de descrédito de que o rio seria despoluído entre a população do estado.

A Sabesp estima que a fase atual de despoluiçã­o do Tietê irá até 2024. “Ao término desta fase, o paulistano já não terá um rio tão fétido quanto hoje e terá uma condição paisagísti­ca melhor”, avalia Malu.

“O compromiss­o de seguir tocando o projeto deve ser assumido pelo próximo governador, pois se trata de uma questão de estado”.

Para que o rio fique efetivamen­te limpo, será necessário que a Sabesp chegue à universali­zação da coleta e tratamento de esgoto.

Será preciso que todas as cidades que margeiam o Tietê também façam o mesmo trabalho e que exista um forte combate ao lixo jogado nas ruas, que vai parar na calha do rio, e que também não cresça a moradia irregular às margens dos córregos das cidades paulistas.

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Lalo de Almeida/Folhapress
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Funcionári­o trabalha no prolongame­nto do supertúnel da Sabesp sob a marginal Tietê, que levará esgoto a estação de tratamento

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