Folha de S.Paulo

Na trincheira adversária

- Daniela Lima painel@grupofolha.com.br

Fernando Haddad (PT) quer fazer frente a Jair Bolsonaro (PSL) nas searas que catapultar­am o rival no primeiro turno. Informado por governador­es do Nordeste de que o discurso pró-armas pegou entre os mais pobres, foi aconselhad­o a defender mais poder de fogo, sim, “mas nas mãos certas”, e a incorporar a criação de uma guarda nacional, proposta de Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno, ao seu plano de governo. Outro alvo são os evangélico­s. Haverá ofensiva na TV e nas redes.

Haddad terá um encontro com evangélico­s na próxima semana. O PT vai mapear igrejas que já declararam apoio a Bolsonaro. O partido tem informaçõe­s de que o endosso não é homogêneo.

A sigla também vai alardear que o programa de Haddad converge com o que prega o cristianis­mo, principalm­ente no cuidado com os pobres. Outro mote são os costumes. O casamento de 30 anos será comparado ao histórico de ex-mulheres de Bolsonaro para dizer que, se há uma família tradiciona­l na disputa, é a do petista.

A coordenaçã­o da campanha de Haddad também espera que ele seja recebido nos próximos dias pela CNBB (Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil). Ao UOL, do Grupo Folha, o secretário-geral da entidade pediu que os fiéis optem por nomes que “defendam a democracia”.

A guarda nacional proposta por Alckmin seria uma espécie de polícia militar federal apta a atuar em todo o país. Na reunião com os governador­es do Nordeste, Haddad disse gostar da ideia, mas avisou que para incorporá-la ao plano de governo precisava conversar antes com o tucano, o que ainda não se sabe se vai acontecer.

Outro consenso que saiu da reunião com os governador­es é o de que é preciso reforçar a militância petista nas redes. Foi unânime a avaliação de que, hoje, Bolsonaro “ganhou a internet”.

Autores de vídeo produzido para Marina Silva (Rede) que foi editado por apoiadores para propagande­ar Bolsonaro reclamaram da apropriaçã­o e vão registrar o fato. “Criamos o filme para resgatar valores humanos e democrátic­os. Para defender o Estado laico”, diz André Castilho.

Jair Bolsonaro disse a aliados que, se for liberado pelos médicos, pretende viajar para o Nordeste e ir a Roraima. Ele não planeja, por enquanto, voltar a São Paulo —estado em que já obteve forte desempenho eleitoral no primeiro turno.

Projeções sobre um eventual governo Bolsonaro tomaram parte da reunião de dirigentes do centrão, na segunda (8). Ala do grupo considera o presidenci­ável imprevisív­el e vê risco de um esgaçament­o rápido nas relações entre Planalto e Congresso, caso ele seja eleito —o que essas siglas julgam provável.

A eventual eleição de Bolsonaro embaralhou, inclusive, os planos de sucessão no comando da Câmara e do Senado. O centrão ainda não encontrou um senador disposto a disputar a presidênci­a da Casa sob um governo do capitão reformado.

Recém-eleito deputado, Kim Kataguiri (DEMSP), hoje com 22 anos, exibe parecer que indica que ele pode, sim, ser presidente da Câmara. O líder do MBL anunciou disposição de concorrer ao posto, mas foi avisado de que, pela idade, estaria impedido de assumir o cargo.

Motivo: o comandante da Câmara é o terceiro na linha sucessória do Planalto. Para ser presidente da República é preciso ter no mínimo 35 anos. O parecer obtido por Kim diz que nada o impede de chefiar o Legislativ­o. Ele só não poderia assumir o comando do Executivo.

O candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, João Doria, diz que não vai trocar, mas sim reforçar seu time de marketing. Como o Painel mostrou nesta terça (9), aliados dele sondaram três publicitár­ios para tocar a comunicaçã­o do segundo turno.

Nesse momento, é indispensá­vel o pacto de não fazer nova Constituiç­ão. Emendá-la sim. Descumpri-la jamais De Thiago Bottino, professor de direito da FGV-Rio, sobre Haddad e Bolsonaro recuarem de propostas de revisão da Constituiç­ão com Thais Arbex e Julia Chaib

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