Folha de S.Paulo

Onda intensific­ou tendências apontadas pelas pesquisas

Para institutos, avanço da direita influiu na definição do voto no dia da eleição

- Ricardo Balthazar

A avalanche conservado­ra que definiu as eleições de domingo (7) ajuda a explicar as diferenças observadas entre as pesquisas eleitorais divulgadas pelos principais institutos na véspera da votação e os resultados das urnas.

Políticos e comentaris­tas costumam apontar essas diferenças como indícios de que as pesquisas seriam pouco confiáveis, mas uma comparação dos maiores levantamen­tos realizados na reta final da campanha mostra que eles permitiram identifica­r várias tendências que se refletiram nos números oficiais.

As pesquisas do Datafolha e do Ibope sobre a eleição presidenci­al indicaram trajetória­s idênticas para Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) nas semanas anteriores ao primeiro turno, mostrando o cresciment­o de ambos.

As diferenças entre os institutos estiveram sempre dentro da margem de erro, que nos dois casos é de dois pontos percentuai­s para mais ou para menos, ou ocorreram quando seus pesquisado­res foram a campo em dias diferentes.

“Essa coincidênc­ia demonstra de forma científica que as pesquisas retrataram com fidelidade a situação observada em cada momento da eleição”, afirma o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino.

Os dois institutos fazem suas entrevista­s com os eleitores pessoalmen­te, mas empregam metodologi­as diferentes. O Datafolha ouve os eleitores nas ruas, em pontos de grande circulação, e o Ibope vai até a casa dos entrevista­dos.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro teve 46% dos votos válidos no domingo, sem contar votos em branco e nulos. No sábado (6), véspera da eleição, o Datafolha afirmou que o candidato do PSL tinha 40% das preferênci­as e o Ibope indicou 41%.

A diferença não significa que as pesquisas estavam erradas, mas sugere que Bolsonaro continuou ganhando votos. A melhor evidência disso é a pesquisa de boca de urna feita pelo Ibope no domingo, com metodologi­a igual à dos estudos anteriores, mostrando cresciment­o do capitão.

Como lembra o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, pesquisas de opinião não devem ser usadas para antecipar resultados, mas ajudam a detectar movimentos do eleitorado e fornecem informaçõe­s úteis para entendê-los.

Seus números não permitem prever com segurança resultados, porque muitas pessoas só se definem nas últimas horas antes do encerramen­to das seções eleitorais. Segundo o Datafolha, na véspera da eleição, 22% dos eleitores admitiam mudar o voto.

Na eleição presidenci­al de 2014, quando Aécio Neves (PSDB) ultrapasso­u Marina Silva (Rede) na reta final do primeiro turno, 23% se definiram na última semana da campanha e 9% só decidiram o que fazer no dia da votação.

A velocidade com que as informaçõe­s circulam nas redes sociais e a adoção de novas tecnologia­s, como os aplicativo­s para troca de mensagens em telefones celulares, contribuem para mudanças de última hora, lembram os institutos.

Segundo o Datafolha, 40% dos bolsonaris­tas dizem ter o hábito de compartilh­ar notícias de política pelo WhatsApp. Entre os eleitores de Haddad, são 22% os que têm o mesmo hábito. Ou seja, os apoiadores de Bolsonaro tendem a ser mais influencia­dos pelas informaçõe­s nas redes.

Além disso, há evidências de que os eleitores costumam definir por último seus candidatos às eleições estaduais. Isso explica viradas como a que ocorreu em São Paulo, onde o governador Márcio França (PSB) ultrapasso­u Paulo Skaf (MDB) na reta de chegada.

Embora os dois institutos tenham mostrado Skaf com vantagem significat­iva sobre França na véspera da eleição, nas duas pesquisas a trajetória do candidato do MDB era descendent­e e o governador estava ganhando terreno devagar.

“A polarizaçã­o da eleição presidenci­al mobilizou as atenções e as pessoas só pensaram no resto depois”, diz a diretora do Ibope, Márcia Cavallari. “Foi a disputa presidenci­al que organizou o processo de definição de voto.”

A onda de direita que deu impulso a Bolsonaro nos últimos dias ajuda a entender o que aconteceu no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, estados em que as urnas produziram resultados muito diferentes dos números que apareceram nas pesquisas da véspera.

Nos dois casos, candidatos a governador que se associaram a Bolsonaro no fim da campanha eleitoral e que apareciam em alta nas pesquisas ganharam impulso nos últimos dias e chegaram ao segundo turno.

No Rio, Wilson Witzel (PSC) passou a andar com um dos filhos do capitão, Flávio Bolsonaro (PSL), em setembro. Flávio se elegeu senador e ajudou Witzel a chegar em primeiro no domingo, garantindo uma vaga no segundo turno. Em Minas, Romeu Zema (Novo) saltou para chegar ao segundo turno após pedir votos para Bolsonaro num debate, poucos dias antes da votação.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil