Levantamentos contam história da eleição e comprovam movimentos de última hora
Segundo turno para presidente da República entre os primeiros colocados, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Em São Paulo, a curva ascendente de Marcio França (PSB) e a indefinição de quem iria para a etapa final com João Doria (PSDB).
No Rio, a disparada de Wilson Witzel (PSC) nos últimos dias, comprometendo a viabilidade de Romário (Pode) e lançando dúvidas sobre o adversário de Eduardo Paes (DEM).
Em Minas Gerais, o crescimento expressivo de Romeu Zema (Novo) na reta final, alcançando o governador Fernando Pimentel (PT) e ameaçando sua reeleição, apontada, de outro lado, em Pernambuco, com Paulo Câmara (PSB). No Distrito Federal, o desempenho de Ibaneis Rocha (MDB), a desidratação de Eliana Pedrosa (Pros) e a sua disputa com Rodrigo Rollemberg (PSB) e outros pela segunda vaga do segundo turno.
São todos resultados não só da eleição como também das pesquisas de véspera do Datafolha, documentadas nas páginas desta Folha no domingo (7) e no Jornal Nacional da TV Globo ainda na noite de sábado (6).
Além dessas tendências, os relatórios do Datafolha também alertavam para as elevadas taxas de indecisos na eleição para o Senado e o quanto elas seriam determinantes para eventuais mudanças no dia do pleito.
Da mesma forma, em suas análises, o instituto enfatizou a taxa recorde de volatilidade do voto, com baixa fidelização, especialmente entre os eleitores de Marina Silva (Rede). Nos artigos, descreveu potenciais de migração para os candidatos que polarizavam a disputa e demonstravam maior cristalização de seus respectivos eleitorados.
As candidaturas de Bolsonaro e Haddad se retroalimentavam, num processo contínuo de ação e reação tanto de seus detratores quanto de seus entusiastas.
Esta é a eleição mais imprevisível pós-redemocratização, catalisada ainda pelas redes sociais de mensagens instantâneas, que influenciam a opinião pública e são difíceis de fiscalizar. Mas não é só por causa dessa gama de vetores com forte poder de influência sobre o eleitorado que os percentuais na pesquisa de véspera não podem ser comparados com os da urna. É porque o procedimento é tecnicamente incorreto mesmo.
A única pesquisa que pode ser comparada com o resultado final é a da boca de urna, realizada depois da votação. Não é uma pesquisa de intenção de voto, questionando o eleitor sobre algo que ainda vai fazer. Entre a intenção e a concretização da escolha, como se viu, variáveis agem sobre a escolha.
A boca de urna é um levantamento sobre o que ele já fez, o candidato em quem ele acabou de votar. Retrata o fenômeno em si, no dia em que ele de fato acontece.
Por isso, os números da pesquisa divulgada pelo Ibope após a votação do último domingo ficaram tão próximos dos apurados nas urnas, confirmando boa parte das tendências e curvas que ambos os institutos captaram na véspera.
O Datafolha deixou de fazer pesquisas de boca de urna desde que a apuração eletrônica passou a dar rapidamente os resultados oficiais, e procura concentrar esforços no monitoramento do processo eleitoral, preocupando-se em fornecer elementos para sua compreensão.
Foi o que aconteceu mais uma vez neste ano. Dos reflexos de indefinição e inelegibilidade da candidatura do ex-presidente Lula, ao clima de protesto e indignação do eleitorado em relação aos políticos e instituições, ao atentado contra Jair Bolsonaro e a oficialização de Fernando Haddad como substituto petista, todas as variáveis foram acompanhadas não só para o total da população como para segmentos que se mostraram estratégicos na eleição —as mulheres mais pobres, a região Nordeste, a classe média brasileira e o contingente evangélico.
Nos últimos pleitos, o eleitor tem deixado a definição do voto cada vez mais para o dia da eleição. Numa disputa tão atípica como a deste ano, com o acirramento ideológico, em que a peleja presidencial ofuscou a briga por outros cargos (um exemplo são os votos em branco e nulos para governadores), tão importante quanto apenas mostrar a “corrida de cavalos”, é compreendê-la para acima de tudo contar sua história.
Numa disputa atípica como a deste ano, com o acirramento ideológico, em que a peleja presidencial ofuscou a briga por outros cargos, tão importante quanto mostrar a corrida de cavalos é compreendê-la