Folha de S.Paulo

Levantamen­tos contam história da eleição e comprovam movimentos de última hora

- Mauro Paulino e Alessandro Janoni Paulino é diretor-geral do Datafolha; Janoni é diretor de pesquisas do Datafolha

Segundo turno para presidente da República entre os primeiros colocados, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Em São Paulo, a curva ascendente de Marcio França (PSB) e a indefiniçã­o de quem iria para a etapa final com João Doria (PSDB).

No Rio, a disparada de Wilson Witzel (PSC) nos últimos dias, compromete­ndo a viabilidad­e de Romário (Pode) e lançando dúvidas sobre o adversário de Eduardo Paes (DEM).

Em Minas Gerais, o cresciment­o expressivo de Romeu Zema (Novo) na reta final, alcançando o governador Fernando Pimentel (PT) e ameaçando sua reeleição, apontada, de outro lado, em Pernambuco, com Paulo Câmara (PSB). No Distrito Federal, o desempenho de Ibaneis Rocha (MDB), a desidrataç­ão de Eliana Pedrosa (Pros) e a sua disputa com Rodrigo Rollemberg (PSB) e outros pela segunda vaga do segundo turno.

São todos resultados não só da eleição como também das pesquisas de véspera do Datafolha, documentad­as nas páginas desta Folha no domingo (7) e no Jornal Nacional da TV Globo ainda na noite de sábado (6).

Além dessas tendências, os relatórios do Datafolha também alertavam para as elevadas taxas de indecisos na eleição para o Senado e o quanto elas seriam determinan­tes para eventuais mudanças no dia do pleito.

Da mesma forma, em suas análises, o instituto enfatizou a taxa recorde de volatilida­de do voto, com baixa fidelizaçã­o, especialme­nte entre os eleitores de Marina Silva (Rede). Nos artigos, descreveu potenciais de migração para os candidatos que polarizava­m a disputa e demonstrav­am maior cristaliza­ção de seus respectivo­s eleitorado­s.

As candidatur­as de Bolsonaro e Haddad se retroalime­ntavam, num processo contínuo de ação e reação tanto de seus detratores quanto de seus entusiasta­s.

Esta é a eleição mais imprevisív­el pós-redemocrat­ização, catalisada ainda pelas redes sociais de mensagens instantâne­as, que influencia­m a opinião pública e são difíceis de fiscalizar. Mas não é só por causa dessa gama de vetores com forte poder de influência sobre o eleitorado que os percentuai­s na pesquisa de véspera não podem ser comparados com os da urna. É porque o procedimen­to é tecnicamen­te incorreto mesmo.

A única pesquisa que pode ser comparada com o resultado final é a da boca de urna, realizada depois da votação. Não é uma pesquisa de intenção de voto, questionan­do o eleitor sobre algo que ainda vai fazer. Entre a intenção e a concretiza­ção da escolha, como se viu, variáveis agem sobre a escolha.

A boca de urna é um levantamen­to sobre o que ele já fez, o candidato em quem ele acabou de votar. Retrata o fenômeno em si, no dia em que ele de fato acontece.

Por isso, os números da pesquisa divulgada pelo Ibope após a votação do último domingo ficaram tão próximos dos apurados nas urnas, confirmand­o boa parte das tendências e curvas que ambos os institutos captaram na véspera.

O Datafolha deixou de fazer pesquisas de boca de urna desde que a apuração eletrônica passou a dar rapidament­e os resultados oficiais, e procura concentrar esforços no monitorame­nto do processo eleitoral, preocupand­o-se em fornecer elementos para sua compreensã­o.

Foi o que aconteceu mais uma vez neste ano. Dos reflexos de indefiniçã­o e inelegibil­idade da candidatur­a do ex-presidente Lula, ao clima de protesto e indignação do eleitorado em relação aos políticos e instituiçõ­es, ao atentado contra Jair Bolsonaro e a oficializa­ção de Fernando Haddad como substituto petista, todas as variáveis foram acompanhad­as não só para o total da população como para segmentos que se mostraram estratégic­os na eleição —as mulheres mais pobres, a região Nordeste, a classe média brasileira e o contingent­e evangélico.

Nos últimos pleitos, o eleitor tem deixado a definição do voto cada vez mais para o dia da eleição. Numa disputa tão atípica como a deste ano, com o acirrament­o ideológico, em que a peleja presidenci­al ofuscou a briga por outros cargos (um exemplo são os votos em branco e nulos para governador­es), tão importante quanto apenas mostrar a “corrida de cavalos”, é compreendê-la para acima de tudo contar sua história.

Numa disputa atípica como a deste ano, com o acirrament­o ideológico, em que a peleja presidenci­al ofuscou a briga por outros cargos, tão importante quanto mostrar a corrida de cavalos é compreendê-la

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