Folha de S.Paulo

Ligado a PSDB e PT, eixo Rio-SP perde espaço para Brasília na área econômica

- Julio Wiziack e Mariana Carneiro

O programa de governo de Jair Bolsonaro (PSL) está mobilizand­o cerca de 80 especialis­tas, a maior parte ligada à UnB (Universida­de de Brasília) e ao Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Essa equipe desloca a formulação da pauta econômica de tradiciona­is escolas do eixo Rio-São Paulo para a capital federal.

É um estilo bastante diferente dos governos passados do PSDB e do PT.

Aqueles períodos ficaram associados a técnicos oriundos da PUC-RJ (Pontifícia Universida­de Católica do Rio de Janeiro), como os formulador­es do Plano Real, e da USP (Universida­de de São Paulo) e da Unicamp (Universida­de Estadual de Campinas), ligados à nova matriz econômica, de Dilma Rousseff.

Os especialis­tas de Bolsonaro se dividem em 27 grupos, que discutem temas variados, como segurança jurídica, reforma tributária e políticas de apoio à família.

Cada um deles é composto por cerca de cinco integrante­s, alguns de mais de um desses times.

O deslocamen­to para Brasília se deve à atuação de servidores do governo Michel Temer que aceitaram colaborar com Bolsonaro na elaboração de um plano e formaram os primeiros grupos temáticos.

O recrutamen­to foi feito pelo economista Adolfo Sachsida, diretor-adjunto de estudos e políticas regionais, urbanas e ambientais do Ipea.

Militante de movimentos conservado­res, Sachsida se aproximou de Bolsonaro em meados de 2017, quando o deputado federal ainda era do Patriota (ex-PEN).

Os dois se conheceram no Foro de Brasília, que questionav­a na Justiça políticas adotadas no governo do PT, como empréstimo­s feitos pelo BNDES para viabilizar obras no exterior.

Naquele momento, o capitão reformado do Exército — que já almejava disputar a Presidênci­a— buscava um economista para organizar um grupo de assessoram­ento.

A pedido de Bolsonaro, Sachsida passou a recrutar colaborado­res, muitos deles entre seus colegas do Ipea, como Alexandre Iwata, e da UnB.

Quando Bolsonaro migrou para o PSL, no início deste ano, o economista Paulo Guedes entrou em cena.

Sachsida então passou a coordenar os grupos de trabalho sob o comando de Guedes.

As equipes ganharam mais adeptos à medida que Bolsonaro avançava nas pesquisas eleitorais.

Sachsida passou também a ser a ponte entre os grupos de colaborado­res da área econômica e os militares, que contribuía­m de maneira isolada e que foram aglutinado­s nessas equipes poucas semanas antes da eleição.

Cada grupo tem um coordenado­r, responsáve­l por enviar propostas e subsidiar os discursos do candidato.

De uma dessas equipes, liderada pelo economista Marcos Cintra, saiu a ideia do imposto único, que pretende reunir todos os impostos federais em uma tributação nos mesmos moldes da CPMF.

Na área de macroecono­mia, estão Mario Jorge Mendonça (Ipea) e Roberto Ellery (UnB).

Marcio Bruno Ribeiro (Ipea) desenvolve modelos para verificar a efetividad­e das políticas que serão implementa­das.

Sergei Soares (Ipea) se concentrou nas propostas para a área social, revisando os gastos com programas assistenci­ais do atual governo.

Na infraestru­tura, Paulo Coutinho, diretor do Centro de Estudos em Regulação de Mercados, da UnB, coordena os diversos grupos ligados a telecomuni­cações, transporte­s e outros setores regulados.

O grupo de estímulo à concorrênc­ia, por exemplo, tem a coordenaçã­o do atual diretor de estudos econômicos do Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica), Guilherme Resende.

Ligado ao candidato ao governo de São Paulo João Doria (PSDB), Paulo Uebel, exsecretár­io de Gestão da Prefeitura de São Paulo, cuida de propostas para o desenvolvi­mento regional e desburocra­tização da máquina pública.

Existem colaborado­res que atuam em outros órgãos da administra­ção federal.

No Congresso, por exemplo, os consultore­s Cesar Mattos e Igor Freitas enviaram propostas para a área de transporte e telecomuni­cações, respectiva­mente.

Mattos foi conselheir­o do Cade, e Freitas integrou o conselho diretor da Anatel.

Um dos maiores grupos é voltado a políticas para o agronegóci­o, liderado pelo economista José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho (Ipea).

Nas relações exteriores, as colaboraçõ­es são pilotadas por Marcos Troyjo, do BRICLab, da Universida­de Columbia. Ele é colunista da Folha. Há também colaborado­res de PUC-Rio, USP, Unifesp e FGV. Adolfo Sachsida

• Originário do Ipea, é doutor em economia pela UnB e pós-doutor pela universida­de americana do Alabama

• É o coordenado­r dos grupos da área econômica e elo entre os times de Paulo Guedes e o de Brasília, formado também por generais Sergei Soares

• Ex-presidente do

Ipea (2014-2015)

• Mestre e doutor em economia pela UnB

• Ingressou por concurso público, em 1998, na carreira de técnico de planejamen­to e pesquisa do instituto

• É especialis­ta em políticas de distribuiç­ão de renda, e coordena o grupo de políticas sociais Carlos Henrique da Rocha

• Professor da UnB, é doutor pela Universida­de de Liverpool, na Inglaterra

• Professor no programa de pós-graduação em transporte­s da UnB

• Faz parte do grupo de infraestru­tura e colabora com temas relacionad­os à política de portos Marcos Cintra

• Coordenado­r do grupo de reforma tributária e de ciência e tecnologia

• Chegou à campanha de Bolsonaro por influência do PSL

• É presidente da Finep, professor da FGV-SP e criador do imposto único, que está em estudo na campanha de Bolsonaro

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