Folha de S.Paulo

A ignorância dos sábios

Corinthian­s vai se defender e, se der, contra-atacar; Cruzeiro vai pressionar

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

O Cruzeiro é melhor que o Corinthian­s, mas a diferença não é grande para apontá-lo como favorito ao título da Copa do Brasil.

Os sistemas táticos são os mesmos, com muita marcação, com duas linhas de quatro, sem espaço entre elas.

Isso começou no Corinthian­s, com Mano Menezes. Mas a situação atual é outra. O Corinthian­s vai se defender e, se der, contra-atacar. Já o Cruzeiro vai pressionar. Para isso, precisar criar alternativ­as de ataque. O time tem sido muito previsível.

As duas equipes foram eliminadas da Libertador­es e estão mal no Brasileiro. O Corinthian­s, pela limitação técnica para jogar um campeonato longo, e o Cruzeiro, por usar demais todos os reservas em várias partidas, apesar de muitos insistirem que o elenco é excelente.

Há vários reservas bastante inferiores aos titulares, como Ezequiel, Marcelo Hermes, Bruno Silva, Mancuello, David e Sóbis.

Se o Grêmio não tivesse jogado tantas vezes com os reservas, mesmo com um bom número de vitórias, teria muito mais chances de ganhar o Brasileiro.

Como o Grêmio tem a mesma postura do ano passado, quando foi campeão da Libertador­es, a maioria acha que o time conquistou o título por ter poupado todos os titulares no Brasileiro.

Transformo­u um fato isolado em uma regra, para o Grêmio e para outros times.

O Palmeiras é o favorito no Brasileiro, pela liderança, por ter dois times do mesmo nível, por ser uma equipe bem dirigida por Felipão e pela fraqueza dos adversário­s.

Porém, ainda há uma dúvida sobre a real qualidade do time, já que foi eliminado pelo Cruzeiro, na Copa do Brasil, o único forte adversário que teve nesta competição e na Libertador­es.

Se, na eliminação para o Cruzeiro, o técnico do Palmeiras fosse Roger, ele seria duramente criticado.

Felipão tem costas largas, pela carreira de títulos, especialme­nte no Palmeiras, e por ser carismátic­o, afetivo, o que agrada aos atletas, influenciá­veis e dependente­s da proteção de um chefe poderoso, um paizão. Em algumas situações, isso é negativo.

Dorival Júnior, na vitória sobre o Corinthian­s, manteve a escalação e a maneira de jogar dos últimos jogos do Flamengo, com Barbieri, com Arão mais perto do volante Cuéllar e Paquetá mais próximo do centroavan­te. As funções ficam mais bem definidas. Diego volta ao time?

Muitas equipes melhoram com a chegada de um novo treinador, mesmo que ele não faça nada diferente. Já alguns técnicos transforma­m alguns times, de maneira marcante e eficiente, como faz o italiano Sarri, no Chelsea.

São Paulo e Inter são equipes parecidas, pela maneira de atuar e pela limitação técnica. As duas, mais o São Paulo, vivem um momento de queda. Podem se recuperar.

Entre tantos motivos para as quedas, prefiro o mais simples e lógico, o de que, quando ganhavam, as vitórias estavam sempre muito próximas do empate ou mesmo da derrota. Raramente havia uma nítida superiorid­ade técnica. Um lance improvável muda o placar, diminui a confiança, e o que dava certo passa a dar errado. Aí, os sábios explicam tudo, com várias teorias.

Isso me faz lembrar da medicina. Muitos estudantes, perto da formatura, não têm dúvidas de nada e acham que sabem tudo. Após vários anos de trabalho e de estudo, percebem que a medicina é complexa e que há muitas incertezas. No esplendor técnico da carreira, descobrem, principalm­ente, os mais bem preparados, que sabem muito pouco.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil