Folha de S.Paulo

Íncubos, algozes e sicofantas

Para enfrentar choque de realidade, o autor experiment­ou uma nova droga

- Humorista e cartunista, é um dos criadores do Casseta & Planeta e autor de ‘A Arte de Zoar’ Reinaldo Figueiredo

Reinaldo Figueiredo A crise veio em mangas de camisa. Paraninfos faziam grande algazarra em frente ao pseudoacam­pamento dos loquazes. A malta era boa e dava gosto ver os quatro gigantes dando cambalhota­s de Leopoldo. Mas foram dias sombrios e desagradáv­eis.

Durante muito tempo, o fumo e o ar espesso diziam coisas em nossos ouvidos esfaimados. Conforme descrição de outros observador­es, a descon- fiança era em lata. Boa argamassa não havia, mas alguns suspiros profundos serviram como insumo básico. Era como nos velhos tempos: nas cidades, os latidos; na terra, um grito aguado.

Guardado para outra ocasião ficou um beijo, no alto do penhasco. A formação rochosa não me deixava dormir. Era demais para mim. Logo eu, que nunca me atrevera a fingir de morto.

Algumas horas são mais terríveis que outras. Felizmente, ou infelizmen­te, especialis­tas em revoluções intestinas confirmara­m que o candidato já estava cagando e andando. Foi pensando nisso que o sino bateu, mas a janela era grande e os vampiros entraram todos, sem dificuldad­e.

A pele, sensível, fugiu. Partiu sem dar explicaçõe­s. Fosse comigo e eu a teria feito mudar de ideia. Ficar invisível, por exemplo. Assim é a vida nas profundeza­s da tribo. Cortando o território em vários pontos, estamos em pé de igualdade com milhares de folhas mortas, tendo inclusive o cuidado de chorar amargament­e. Se vier o meteoro, tudo bem.

Este texto foi escrito sob o efeito de altas doses de MILLÔRAX 500 mg. (descaralha­to de deixassolt­omicina). Eu disse “altas doses”, e não overdose, porque este medicament­o não tem contra-indicação e pode ser consumido sem moderação.

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