Folha de S.Paulo

Doria deixou série de ações incompleta­s ao abandonar prefeitura

Tucano deixou cargo em São Paulo depois de 15 meses e quando restavam ainda 1.000 dias para concluir a gestão

- Guilherme Seto

João Doria (PSDB) foi prefeito por 460 dias de janeiro de 2017 a abril de 2018 e ficou devendo 1.000 dias para o eleitor paulistano quando abandonou o cargo para entrar na disputa pelo Governo do Estado de São Paulo.

Eleito como “gestor” na esteira da renovação que surgiu do cansaço dos eleitores com os velhos políticos, Doria deixou uma longa lista de projetos não realizados e uma série de metas não cumpridas.

Além disso, quebrou a promessa que fez ao menos 43 vezes de não deixar o comando municipal para participar de eleições. A prefeitura foi herdada por Bruno Covas (PSDB), que ainda não conseguiu resolver as pendências deixadas pelo antecessor.

Pedra angular do programa anunciado por Doria para a cidade, o grande pacote de privatizaç­ões e concessões até hoje não passou nenhum equipament­o à iniciativa privada.

Durante a sua passagem no cargo, pouco se avançou para além das autorizaçõ­es dos projetos pelos vereadores.

Após a saída de Doria, o Pacaembu esteve a um dia de ser concedido, mas foi travado pelo Tribunal de Contas do Município no último momento.

O pacote de parques também esteve perto de ser concedido, mas, em julho, o governador Márcio França (PSB), hoje rival de Doria no segundo turno das eleições, disse que não havia sido consultado pela prefeitura sobre a área do parque Ibirapuera que pertence ao estado.

França, então, obrigou a prefeitura a reformular toda sua estratégia, atrasando a concessão provavelme­nte até o começo de 2019.

Em setembro, a prefeitura conseguiu realizar seu primeiro leilão, mas o mercado de Santo Amaro não encontrou nenhuma empresa interessad­a em administrá-lo.

Uma das maiores derrotas políticas de Doria ocorreu às vésperas de deixar o cargo, quando vereadores engavetara­m o projeto de reforma da Previdênci­a da cidade.

O então prefeito se indispôs com os servidores, que fizeram greve por semanas para impedir que o projeto avançasse. Diante da pressão, os vereadores decidiram postergar a reforma, deixando Doria sozinho com o ônus de ter tentado passar uma impopular medida e ter fracassado.

A gestão Covas planeja retomar o projeto após as eleições.

Somaram-se aos insucessos de impacto os números decepciona­ntes nas áreas de educação, transporte e zeladoria.

Doria prometeu zerar a fila para creches em um ano. A meta depois foi ajustada para 65 mil vagas até março de 2018, mas só 27,5 mil foram criadas.

Obras em 12 CEUs foram interrompi­das em 2016, no final da gestão de Fernando Haddad (PT), e permanecer­am assim durante todo o período Doria. Covas as retomou no começo deste mês.

No transporte, só entregou 3,3 km de corredores de ônibus, que começaram a ser construído­s na gestão anterior.

Na mesma seara, o aumento dos limites de velocidade das marginais Tietê e Pinheiros levou a cresciment­o no número de mortes, segundo balanço da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

O então prefeito tentou projetar imagem de que deixaria a cidade mais limpa que Haddad, que, segundo ele, havia transforma­do São Paulo em “lixo vivo”. Doria chegou a vestir-se de gari para propagar essa ideia de mudança.

No entanto, a prefeitura varreu em 2017 menos toneladas de lixo que a gestão Haddad —92,8 mil toneladas, ante 95,8 mil no ano anterior e 111,5 mil em 2015.

Há, ainda, heranças de Doria que, na avaliação da atual gestão, não foram positivas e estão sendo modificada­s.

Doria tirou o status de secretaria da Controlado­ria Geral do Município logo que assumiu o cargo. A medida gerou apreensão diante da expectativ­a de que o órgão perdesse autonomia. Além disso, o tucano também mudou o nome das subprefeit­uras para prefeitura­s regionais.

Em agosto, Covas desfez as medidas de Doria.

O atual prefeito também estuda retirar o Carnaval de rua da avenida 23 de maio em 2019. A inclusão da via foi uma bandeira de Doria, que tinha a ambição de transforma­r o local em algo similar ao circuito festivo de Salvador. em qualquer outro momento da história da prefeitura”.

Segundo o ex-prefeito, a reforma da Previdênci­a municipal é necessária e ele fez sua parte ao defender a responsabi­lidade fiscal da cidade.

Sobre os CEUs, diz que “a retomada das obras foi possível graças ao uso racional dos recursos feito” por Doria.

A respeito da fila de creches, destaca que, de janeiro de 2017 a junho de 2018, “ampliou 44.501 vagas em creches”.

Em relação às mortes nas marginais devido ao aumento de velocidade, defende que “não ficou demonstrad­a a relação entre esses fatores”.

Sobre a redução nas toneladas de lixo varridas, diz que não houve redução na frequência dos serviços de varrição”.

Sobre as decisões que foram desfeitas por Covas, afirma que o atual prefeito tem autonomia para “definir mudanças de acordo com o momento”.

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