Folha de S.Paulo

Akanni Alves, 12 O que cabe no espaço entre dois versos de um poema?

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Uma pausa, um respiro, uma quebra de linha? Para Akanni Alves, uma vida inteira pode se esconder entre uma rima e outra. “Poetas não podem entrar em extinção”, declama o garoto de 12 anos.

Quando termina de articular a última sílaba, no segundo em que o silêncio prepara terreno para o próximo verso, Akanni viaja na memória.

Lembra-se de quando visitou pela primeira vez a Casa das Rosas, em São Paulo, em 2015. A mãe havia morrido de câncer em 2014, e pai e filho tinham ido ao museu literário da avenida Paulista para assistir a um sarau.

Ali o menino foi sentindo um formigamen­to, uma vontade de sair da cadeira, um comichão para pegar o microfone —o que só passou quando já estava em cima do palco. “Li três poemas que me emprestara­m. Foi bem desconfort­ável. É como estar a vida inteira dentro de uma caixinha e, de repente, sair para o mundo.”

Depois, ele se recorda do dia em que estava no cabeleirei­ro e, de tão entediado, começou a pedir rimas para pessoas no salão. Nascia ali o seu primeiro poema. Também convenceu o pai a escrever as próprias poesias. De sarau em sarau, os dois se tornaram membros do coletivo Poetas do Tietê, que faz apresentaç­ões pela cidade.

A memória leva-o ao ano passado. Em um financiame­nto coletivo arrecadou mais de R$ 8.000 para seu primeiro livro: “Mente Aberta” (ed. Guismofews, R$ 40). Passou também a ministrar oficinas gratuitas em escolas públicas.

“É difícil encontrar crianças que gostam de poesia. Mas, se consigo tocar o coração de um aluno só, certeza que ele vai começar a escrever e vai passar isso para outras pessoas. Aí a cultura vai se alastrando, fazendo com que a gente se torne mais humano.”

Só depois dessa fração de segundo cheia de pensamento­s ele chega ao último verso do poema: “Poesia é revolução!”

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