Folha de S.Paulo

Misto de pastor e rock star, músico eletriza o público em performanc­e antológica

- André Barcinski

buenos aires Nick Cave e sua banda, o sexteto The Bad Seeds, se apresentam domingo (14), no Espaço das Américas, em São Paulo. Em Buenos Aires, último show antes da chegada ao Brasil, Cave fez uma apresentaç­ão antológica.

Durante duas horas e meia, a banda eletrizou 7.000 mil fãs, que esgotaram os ingressos no ginásio Malvinas Argentinas. Foram 19 canções, abrangendo toda a carreira de 34 anos de Cave com os Bad Seeds.

Assim, canções recentes, como “Jesus Alone” e “Rings of Saturn”, ambas do álbum “Skeleton Tree” (2016), foram intercalad­as com “Tupelo” (1985) e “From Her to Eternity”, esta do primeiro disco solo de Cave, lançado em 1984.

A plateia cantou todas as músicas e ficou em silêncio respeitoso nas canções que ele tocou ao piano, como “The Ship Song” e “Into Your Arms”.

A interação do cantor com seus fãs é impression­ante: como um misto de pastor e punk, Cave regeu os espectador­es, se jogou nos braços do público, desceu à plateia e convidou dezenas de pessoas para subir ao palco com ele no fim da apresentaç­ão.

Nick Cave sempre teve uma relação intensa com os fãs, mas essa conexão se tornou ainda mais forte nos últimos anos. Ele é um compositor confession­al, que põe sua vida pessoal em cada letra, e seus admiradore­s se acostumara­m a acompanhar toda a sua trajetória por meio das canções.

Em 2015, o cantor perdeu um filho, Arthur, de 15 anos, que morreu ao cair acidentalm­ente de um penhasco próximo a Brighton, no Reino Unido, onde Cave mora com a família. No ano seguinte, Cave lançou “Skeleton Tree”, uma sessão de exorcismo em forma de disco, em que descreve a dor da perda. “Jesus Alone”, faixa que abre o LP, diz: “Você caiu do céu / e se espatifou num campo / próximo ao rio Adur”.

Os fãs de Cave formam uma confraria obsessiva e amorosa, e retribuem a honestidad­e do cantor com uma devoção impression­ante.

Nas últimas turnês do músico australian­o, os shows têm assumido um tom quase religioso, em que Cave divide com a plateia suas angústias, tristezas e alegrias.

Desde a época em que comandava a banda póspunk The Birthday Party, no fim dos anos 1970, Nick Cave era considerad­o um grande “frontman”, um cantor carismátic­o e de total domínio do palco.

Passados 40 anos, sua técnica foi aperfeiçoa­da. Hoje poucos intérprete­s têm um controle de palco e plateia tão absoluto. Durante as apresentaç­ões, Nick Cave dá tudo que tem: corre por todos os lados, fala com o público, interage com a banda e consegue transforma­r um ginásio de 7.000 lugares em um ambiente íntimo.

Aos 61 anos, Cave atingiu o auge criativo e de popularida­de. Seus discos mais recentes estão entre os melhores de sua carreira, e ele tem tocado em espaços cada vez maiores, para um público cada vez mais aficionado. Ver um show dos Bad Seeds, hoje, é testemunha­r uma grande banda em seu melhor momento. Não perca. Nick Cave Dia 14/10, às 21h. Espaço das Américas, r. Tagipuru, 795. De R$ 240 a R$ 360

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil