Mercado até ‘se inquieta’, mas ‘só está ouvindo o que quer’
Sob o título “No Brasil, a República ameaçada”, o economista Thomas Piketty escreveu no fim de semana no Le Monde que Bolsonaro seria “regressão terrível”.
E o Le Parisien reportou que, “Grande investidora no Brasil, a França se inquieta com eleição”. Cita que Bolsonaro “parece moderar” seu programa de privatizações —e que o “guru” Paulo Guedes está “sob investigação por... fraude”.
Lista Alstom, Casino, “todas as grandes empresas CAC 40”, o índice das maiores da bolsa de Paris, como expostas. Na última semana, sites como Bourse Direct noticiaram seguidos “desmentidos” do Casino de que contratou o banco Rothschild para tentar vender o Pão de Açúcar.
Já o Wall Street Journal ouviu questionamentos às apostas do mercado no Brasil, feitos por analistas como Phil Torres, da Aegon Asset Management, Alejo Czerwonko, do UBS Global Wealth Management, e Roberto Simon, diretor da Americas Society/Council of the Americas.
Pela ordem, “Pessoas tendem a gravitar em direção à história feliz, é questão comportamental que todos sofremos”; “Investidores dedicados a emergentes estão precisando desesperadamente de histórias idiossincráticas positivas”; e “Parte é pura euforia irracional: O mercado só está ouvindo o que quer ouvir”.
por quê?
O Süddeutsche, sob o título “Por que os negros votam num racista”, ouve a cientista política Mariana Llanos, do Instituto Alemão de Estudos Globais, para entender o que leva não só negros, mas mulheres, indígenas e homossexuais a votar em alguém que “fala contra eles”. Em suma: “Muitos brasileiros estão simplesmente assustados”, temem o desemprego e a violência, o “declínio social”.
‘the scum of humanity’
O New York Times reduziu sua cobertura eleitoral, mas no fim de semana destacou longa resenha de Holland Cotter, prêmio Pulitzer de crítica, que viajou a São Paulo para a exposição Histórias Afro-Atlânticas no Masp e no Instituto Tomie Ohtake. “Vale a pena ir longe por grandeza”, escreve. “É um baú de tesouro hemisférico, uma reformulação das narrativas e, peça por peça, uma das mostras mais fascinantes que eu vi em anos, com uma detonação visual atrás da outra.” E vem na hora adequada, com Bolsonaro favorito e “vocalizando hostilidade à comunidade afrobrasileira, chamando imigrantes de Haiti e outros de ‘escória da humanidade’”.
exílio científico
O Times Higher Education publica que “Não há vencedores nas universidades”, citando temores por liberdade de expressão e recursos. O maior é pelos graduandos e pós-graduandos, mas acadêmicos em geral estariam “buscando projetos de pesquisa na Europa”, com “planos de deixar o Brasil se Bolsonaro implementar seu programa”.
medo
Da Bloomberg à New York Review of Books, Ivo Herzog, “cujo pai jornalista, Vladimir, permanece um dos maiores símbolos da luta contra a ditadura”, foi ouvido para reportagens que questionam Bolsonaro, “ditador em potencial”, no título da NYRB. Uma de suas declarações: “Estou com muito medo. A situação me põe sob estresse, não consigo dormir sem me medicar. Mas decidi que agora não é hora de abandonar a luta”.
deportação
O Haaretz publicou no fim de semana a longa reportagem “Israel busca deportar ao Brasil homem que viveu quase toda a vida na Cisjordânia”. Abu Hafez, 24, nasceu no Brasil e, seguindo o pai palestino e a mãe uruguaia, está na Cisjordânia desde os 3. Só fala árabe, “não conhece ninguém no Brasil” e, destaca o jornal israelense, exemplifica problema de “dezenas de milhares de palestinos sob ameaça de deportação”.